É bom recapitular rapidamente.

  • Decidi falar tudo que tenho a falar sobre religião para não ficar falando mais nisso no blog
  • Não sou autoridade em nada disso. Não passo de uma pessoa que gosta de refletir e ler um pouco a respeito
  • Pó é uma metáfora para a consciência na obra Fronteiras do Universo de Philip Pullman (uma trilogia literária humanista de fantasia)
  • Até agora só falei onde acho que o Pó e os Deuses “reais” não estão

Se esse assunto te interessa muito você pode ler os outros posts na tabelinha abaixo:

Parte 1Parte 2
Parte 3Parte 4
Parte 5Parte 6
Parte 7Parte 8
Parte 9Parte 10
Parte 11 Parte 12
Parte 13Parte 14
Série de posts em busca da consciência humana

Antes de dizer onde acho que o Pó está e onde vejo a nossa espiritualidade tem mais uma coisa que prometi comentar nos posts anteriores… Este deve ser o meu post mais estranho EVER!!! ;-)

Uma consciência não humana em nosso caminho

Calma! Não acredito em interferência alienígena em nosso desenvolvimento! ;-)

Alguns teólogos (como Nilton Bonder de A Alma Imoral) parecem crer que a nossa alma é transgressora e deseja a transformação.

Realmente, olhando nossa história fica claro como mudamos! Não faz muito tempo as mulheres não tinham almas, os Deuses estavam presos a espaços geográficos, escravidão era normal e sacrifícios humanos um desejo dos Deuses.

Nossa consciência tem uma sede desesperada de compreender o Universo e transcender todos os nossos limites.

No entanto a transformação descontrolada produziria um caos incontrolável. É necessário atrito contrário ao impulso mutante da consciência. Esse atrito até hoje era garantido pelas tradições; as religiões guardiãs não da alma transgressora, mas do corpo conservador (ainda parafraseando Nilton Bonder).

As tradições não são o único atrito e, na verdade, a cada dia elas me parecem mais frágeis e fadadas a perder o seu poder.

Muitos discordam de mim quando digo isso e afirmam que as religiões nunca foram tão fortes. Creio que estão errados… Basta que você pense em quantas pessoas deixam de fazer coisas por medo de Deus.

O religioso médio só crê em Deus quando quer se colocar como seu escolhido e superior aos outros. Raramente um corrupto deixa de se corromper, um sádico deixa de torturar por medo das consequências. Muito pelo contrário! Eles podem fazer isso pois o deus deles o permite.

Existe um outro sistema de “crenças” atuando (e substituindo o antigo) sobre a nossa civilização. Trata-se das crenças espetaculares (no sentido dado por Guy Debord).

Na Sociedade do Espetáculo descrita por Debord a nossa atenção é controlada por um mundo virtual criado por uma profusão de espetáculos. A própria Internet com os mesmos textos alienados ecoados à exaustão por email ou em blogs é um ótimo exemplo.

Além do mais quantas pessoas conseguem trabalhar para a máquina econômica e ainda pensar em questões metafísicas? O normal (no sentido de comum) é que aceitemos ser instrumentos de uma grande sociedade consumista-capitalista-espetacular e que alimentemos a necessidade de transgressão da nossa alma com jargões prontos.

Essas coisas (tradições, religiões etc.) são criadas por uma consciência não humana 

Bem, ao menos esse é o meu insight. Não lembro de ver outra pessoa falando nisso.

Prefiro a minha suposição da consciência não humana às numerosas teorias da conspiração que atribuem poderes de manipulação absurdos à elite econômica do planeta.

A teoria hipótese é simples.

Nós temos o impulso instintivo de atender as expectativas do nosso grupo social.

Coloque pessoas normais em uma sociedade onde todos acham idiota ler e logo a maioria dessas pessoas atormentarão quem gosta de ler. Faça o teste! Pergunte ao seu amigo que sempre faz piada com gays, negros ou nordestinos porque ele acha que essas pessoas são inferiores. Ele certamente dirá que é só brincadeira ou jeito de falar.

A consciência não humana que eu vejo é um tipo de consciência coletiva formada pela interação das nossas consciências individuais.

Essa consciência coletiva formaria hoje uma resistência ao pensamento criativo independente absurdamente mais poderosa do que as religiões (também criadas do mesmo jeito) jamais tiveram, afinal agora temos possibilidades exponencialmente maiores de interação entre as consciências individuais.

Ok, esse deve ser um dos meus posts mais estranhos EVER! ;-) Talvez nem devesse tentar abordar essas ideias tão rapidamente, mas acredito que essa consciência coletiva tem um papel importante em nossa busca pelo Pó. Seja individual ou coletivamente.

Há ainda uma outra característica dessa consciência coletiva que devo citar: ela é moldada para atender as necessidades do poder vigente. O poder vigente não é mais o Rei. O poder vigente é o capital e, principalmente o consumo.

Assim como no filme Matrix a nossa espécie se tornou bateria para uma civilização de máquinas que não precisa de O2 para viver, hoje somos baterias a serviço de um tipo de consciência corporativa que deseja ardentemente aumentar o consumo, os mercados e os lucros acreditando que isso é bom, mas ela ainda é uma consciência jovem e ingênua. Não sabe que as unidades de carbono conhecidas como humanos devem ser preservadas.

Se você chegou até aqui e entendeu tudo que eu quis dizer provavelmente se deve mais à sua inteligência do que à minha habilidade com as palavras. Se você entendeu tudo e discorda de mim por favor me dá a boa notícia! ;-) Se entendeu e concorda talvez possa me ajudar a humanizar mais as corporações e a nossa cultura para que todos possamos caminhar para uma nova forma de consciência.