Arrogância 

A introdução na parte 1 (leia antes de continuar, por favor) foi fácil, agora começa a parte difícil.

Qual deve ser o primeiro ponto a abordar em uma busca pela consciência e pela espiritualidade? Principalmente se está sendo escrita por mim, que não sou teólogo, antropólogo ou filósofo?

Tenho a impressão de que a questão principal para a maioria de nós está no conflito entre a ciência e a fé.

De um lado há descobertas científicas (difíceis de entender) sobre a formação do Universo e da vida que excluem a intervenção divina. De outro está a fé nos dizendo que os Deuses devem estar em algum lugar.

Creio que podemos dizer que a razão e a fé são diferentes instrumentos de percepção, afinal utilizamos todas as duas para construir o mundo onde vivemos ou pelo menos para dar-lhe uma forma.

A fé nos diz que nossa existência não pode ser sem significado e que portanto deve haver um espírito e alguma forma de consciência que transcende a nossa. Ela não é objetiva, mas uma forte convicção.

Já a ciência é um instrumento objetivo que depende de suposição, experimentação e demonstração para demonstrar como o Universo funciona e, fatalmente, será modificada, aprimorada ou mesmo abandonada mais adiante se vier a falhar em algum ciclo de experimentação e demonstração.

Existe uma diferença fundamental entre a razão e a fé: enquanto a primeira é alimentada pela dúvida e demonstra o funcionamento das coisas a segunda está repleta de certeza e nos fala do que podemos ou devemos ser.

Nesse ponto prefiro mudar o nome que estou usando para fé e usar espiritualidade.

A fé do jeito que é vivida atualmente está repleta de convicções e respostas enquanto a espiritualidade é um impulso visceral cheio de dúvidas que nos inspira a procurar expandir a nossa consciência. Nossa espiritualidade pode nos conduzir a uma fé.

Por um certo ponto de vista podemos distinguir os momentos da nossa vida entre aqueles em que temos forças para a busca da espiritualidade e os em que cedemos ao conforto da fé.

Até onde sei a ciência moderna não é capaz de perceber sinais da existência de Deuses o que não significa que eles existam, mas a fé convicta nesse ou naquele Deus também não nos ajuda a encontrá-lo caso ele exista.

Em geral a fé e as religiões sugerem que sabem como, quem é e como pensa Deus.

Isso não é menos arrogante do que usar a ciência para afirmar que não há Deuses. Além de ser um desperdício das qualidades da ciência.

Sem a humildade de admitir que estamos muito longe de entender totalmente o Universo e mais longe ainda de perceber Deus estaríamos presos a um universo onde o Sol gira em torno da Terra e as mulheres seriam vistas como instrumentos do diabo.

Com isso creio que apresento mais ou menos bem o segundo ponto que norteará os próximos posts:

Creio que a única forma de abordar tanto a ciência quanto a espiritualidade é munindo-se de dúvida, da consciência de que mal arranhamos a superfície do funcionamento da natureza ou da nossa consciência.

Além disso a espiritualidade pode ser uma excelente suposição a ser experimentada e demonstrada pela razão e pela ciência, mas a ciência não pode ser uma suposição a ser experimentada e demonstrada pela espiritualidade 

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