Tantos níveis de erros nesse texto apócrifo que recebi de um parente com mais de 80 anos que tive que comentar. Começa pela autoria atribuída ao bilionário da vez, que obviamente não tinha dito 10% daquilo. Qual será o bilionário da vez que está no texto que acabou te trazendo a esse post?
Que ordem seguir para comentar o texto, que não vale a pena reproduzir aqui já que basta um resumo. Tá aí, esse é um bom começo. O texto é longo, mas pode ser resumido em:
- O bilionário não diz que quem decide com quem se casará é a filha
- Ele parece crer que mulheres são seres dependentes que devem ser mantidas por maridos ricos
- Riqueza é empreender é gerar recursos.
Aqui vale um comentário… O assalariado não é empreendedor (a menos que crie alguma coisa nas horas vagas) e não tem nada de errado nisso. O empreendedor é quem cria novos negócios ou novos mercados para velhos negócios. O parente que me mandou o texto nunca foi empreendedor, ele é de uma geração em que isso era restrito a muito poucas pessoas. Ele recebia dinheiro que vinha dos impostos das classes C e D. Ele chegou a comprar e vender apartamentos ou linhas telefônicas, mas isso não é gerar riqueza. Curiosamente ele sempre me criticou por ser empreendedor. É. Sou empreendedor, mas simplesmente porque gosto disso. Já gerei empregos, já recebi dinheiro de multinacionais que usei para criar outros negócios e para distribuir para outros empreendedores. Não tem nada de errado em ser empreendedor também.
Só que produzir riqueza ou recursos não torna ninguém melhor que ninguém, não faz ninguém feliz. Não indica que será uma boa amizade, muito menos um bom marido, esposa, companheiro, companheira, companheire. Se a filha que nunca tive me perguntasse sobre o namorado eu jamais diria “Veja se ele é rico, se ele é empreendedor”.
Continuando…
- Ricos e pobres são diferentes pois os ricos podem morrer para enriquecer (que merda, hein?) e os pobres podem matar para enriquecer (curiosamente o rico da vez já disse que promoveria golpes de estado, ou seja, mandaria matar, para obter os recursos que precisasse)
- Pobre joga a culpa no Estado e os ricos estão convencidos que só precisam de informação (aham… Informação de quem faz o loby que ele precisa e o pobre nunca verá na vida)
- Pobres acham que outros precisam lhes dar dinheiro para decolar (como se 90% dos ricos não levassem grana dos pais ou do Estado através de relações políticas, inclusive o rico da vez levou dinheiro até de ditadura teocrática para jogar fora no Twitter só para ter um campo para distorcer a realidade para proteger seus interesses e “dar golpe onde precisar”)
- A maioria dos criminosos são pessoas pobres (os que roubam comida pelo jeito são criminosos, os que roubam os recursos que deixam essas pessoas com fome são ricos, suponho)
- Ensinem seus filhos a criar riqueza (não suas filhas, elas vão casar com homens ricos)
Agora que listei os tópicos do texto fico pensando por que tenho que explicar como é absurdo! Principalmente em uma sociedade e uma fatia da sociedade que é fortemente cristã. Cadê o lance de ser mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um homem rico? Ah… Isso é do velho testamento, né? Mas tá lá na Bíblia cristã… Sou ateu mas li a Bíblia quase toda (talvez por isso seja ateu hehehehe).
A gente até entende um pouco como acontece de alguém ser tão incoerente a ponto de ler um texto desse e achar que é um bom conselho, mesmo que a pessoa fale sempre, daquele jeito vazio, que o que importa é um espírito bom etc.
Estou com 57 anos e estou longe de ser sábio, mas já vivi um bocado de coisas, né? Já conversei com muita gente, sem falar em algumas centenas de livros lidos pq sempre fui traça (tem muito livro ruim na lista, mas tem um bocado bons também) e isso serviu para perceber que as pessoas muitas vezes tem camadas de consciência e de auto-consciência, que essas camadas frequentemente são incoerentes entre si, principalmente em gerações mais antigas (a minha incluída. Ser diferente é um trabalho constante de questionamento e reflexão) que, na média, não pensavam muito profundamente na vida, no universo e em tudo o mais.
Ainda assim passei o dia todo meio perplexo. O texto É MUITO ruim! É materialista do pior jeito possível, é machista, misógino, anti-cristão, alienado etc. E apesar de ter chegado a mim hoje já circula atribuído a outros bilionários há muitos anos. São muitos anos de pessoas lendo isso e repassando…
Bem… Também são muitos anos de alguém organizado perceber que esse texto tem um poder alienante bom e repassando para suas fazendas de vítimas no WhatsApp, né? Em parte por isso esse tipo de texto se perpetua.
Ainda assim…
Será que não era para desconfiar já nas primeiras linhas que o que vamos querer para quem queremos bem é que tenha ao seu redor pessoas gentis, cuidadosas, com quem se pode ficar com tranquilidade, que se pode confiar? E não é confiar para empresar dinheiro ou não roubar nosso dinheiro, é confiar que nos escutará com atenção, que tentará falar com a gente se colocando em nosso lugar e não julgando à partir do próprio lugar, que terá empatia e alteridade!
