Passei um longo tempo pensando nesse título para posto de virada de ano pois tudo que tenho a dizer está envolto em clichês de “felicidade nas pequenas coisas”, “O efeito discreto que fazemos à nossa volta”…

No dia 14 de dezembro terminou uma longa despedida que se estendei por três meses culminando em uma terceira internação de 19 dias enquanto meu cunhado, autista e com retardo mediano, que eu cuidava como se fosse meu filho, passava pelo processo de morrer. Durante esse período a todo momento a experiência berrava nos meus ouvidos como somos importantes para quem está próximo, como nossas pequenas atitudes de gentileza, ou falta dela, podem fazer muita diferença para o universo de quem está diante de nós.

No entanto vivemos uma época em que nos convenceram que temos a responsabilidade de salvar a Terra, a Humanidade, a moral no planeta, os que são vítimas de um capitalismo necrofágico que se alimenta da morte das nossas esperanças.

E temos. Alguma. Talvez zero, uma infinidade de zeros e 1% de responsabilidade e de influência.

Antes de mais nada esse post de forma alguma é uma sugestão de entrega ao individualismo e egoísmo para cuidar só dos próprios interesses… E até caberia uma loooonga reflexão sobre até que ponto nós estamos mesmo conscientes dos nossos interesses… Só para dar um exemplo que deve ser bem claro: A saúde econômica do país muitas vezes custa a nossa capacidade de comer, mas muita gente se ofereceu em sacrifício durante os anos descontrolados da atual pandemia de covid-19 para salvar a economia do país, que é outro conceito que merece reflexão. Será que 7 ou 8 mil pessoas morrerem para não atrapalhar as vendas de hambúrguer é uma troca válida?

Não! De forma alguma vou sugerir que a gente mande o mundo às favas e busquemos gananciosamente “ganhar o nosso”. Basta ver os posts antigos desse blog ou do meu outro blog, o Meme de Carbono.

O que estou sugerindo é que nossa força está na gentileza com que tratamos quem está próximo e quem sequer saberemos que existe, como você que lê esse post por um acaso e não faz ideia de quem sou eu, mas está seguindo a mesma jornada em busca de uma vida com mais sentido ou pelo menos com um sentido que nos faça sentir que vale a pena viver!

Em 2021, última vez que fiz um post de ano novo, escrevi isso:

Então compartilhemos com o mundo que amamos e os humanos por quem temos empatia, tanto nossos momentos agradáveis quanto os desagradáveis, sem tentarmos parecer melhores que os outros tentando mostrar apenas nossa beleza, placidez e bondade. Mostremos que somos todas iguais: Pessoas da Terra.

Ano Novo: Ciclos e Espirais

É um post curto, mas dá para notar que já mudei um pouco (ou muito): por que compartilhar só com quem temos empatia?

Continua valendo a ideia de experimentar a vida com as outras pessoas.

Não se iluda: você terá um impacto na humanidade, quer queira, quer não. Pode até ser que aquele monte de zeros 1 por cento se multiplique, se transforme e ecoe por décadas sem que você jamais saiba.

A questão é que o peso de sermos heróis, heroínas é injusto, é irreal, é perverso!

A carne que você não come não mudará o mundo, mas se você fizer isso de um jeito gentil pode fazer bem a quem está próximo e decida, não por passar pelo seu julgamento e condenação, reduzir ou mudar o consumo de carne (é difícil defender o consumo de carne de agronegócios nas condições atuais). A luz que você apaga quando não precisa ou mesmo a luz que você deixa de acender preferindo lidar com um pouco de sombras também não impedirá a mudança climática e ainda é uma culpa perversa que nos colocam sabendo que, uma pessoa bilionária emite mais CO2 que um MILHÃO dos 90% da humanidade com menos recursos. No entanto lidar com a noção de sustentabilidade nos leva a reflexões que podem nos ajudar a admirar mais a existência.

Acima de tudo: uma humanidade que despreza a humanidade, que se vê como um vírus e não por sua capacidade de transformação, de produzir arte e encontrar soluções para grandes desafios globais talvez seja a maior vitória dos engenheiros do caos, que se aproveitam da insegurança de períodos de profunda transformação social, cultural, moral, científica, tecnológica e 42, para plantar em nós a desesperança que nos reduz a máquinas de consumo, quando na verdade somos todes máquinas culturais!

Foto de SwapnIl Dwivedi na Unsplash