Lá no palco a brilhante Denise Stoklos soma sua voz dissonante a tantas outras que engrandeceram este país. Ela lá e aqui a lembrança de Demian, aquele de Hermann Hesse, ocupa o palco das minhas reflexões.
As vozes de frei Beto, Paulo Freire e Lamarca berram e ecoam no passado e no presente, mas o som se distorce e o poder do seu grito enfraquece. Assim como Galileu nos mostrou que a Terra vagava pelo cosmo ao contrário de estar fixa no seu centro e Darwin provou que até mesmo nossos corpos são mutáveis, inconstantes. Estas vozes dissonantes que Denise nos traz sugerem que a sociedade é como as placas continentais, flutuando sobre o magma, se transformando e se chocando.
Nossa espécie nunca gostou muito de perceber que o solo sob os pés não é firme, poucos se atrevem a enfrentar a insegurança dos mares.
Presos neste medo natural da mudança, na rotina moderna, no cansaço e nos laços de uma média acabamos sufocando nossas vozes dissonantes, escolhemos os alicerces do nosso mundo e não os olhamos mais.
A relação entre o menino que pede dinheiro no sinal, o que assalta por um tênis e o que se protege entre os portões de um condomínio de luxo é esquecida, ignorada. É necessária a coragem de se esvaziar das certezas, duvidar do óbvio e encarar atentamente aquilo diante dos nossos olhos, assim como Demian…
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