Há duas semanas apareceu essa notícia na minha timeline do Facebook ou do Google+ (não lembro bem onde) sobre um grupo de escritores de ficção científica da Arábia Saudita.

Sei que a região é controversa para esse gênero em virtude dos fortes posicionamentos religiosos e suas interferências na política.

Fiquei tão curioso que fui atrás e comprei a tradução para o inglês de um dos livros mais populares deo grupo: H W J N. Isso é uma forma de escrever Hawjan (eles não tem vogais em árabe), nome do jinn (gênio) que protagoniza a história.

Achei fascinante! Entrar em contato com uma cultura tão diferente da nossa sempre é no mínimo interessante.

Capa do livro

Quando fui pesquisar para escrever esse post descobri que o livro foi censurado por lá em novembro por falar em feitiçaria e demônios o que na verdade me surpreendeu pois o que li é uma obra fortemente religiosa a favor dos princípios do Islamismo. A tal ponto que pode incomodar um pouco a nós, ocidentais, acostumados a pensar em nosso Cristianismo como se fosse o centro da espiritualidade universal. Até eu que sou agnóstico senti um certo desconforto pois só livros religiosos ocidentais demonstram tanta dedicação ao Cristianismo quanto o autor demonstra ao Islamismo.

Apesar disso o livro foi censurado. Desconfio que lá, como aqui, os censores não leem o que estão julgando. Basta que alguém lhes fale que “tem bruxaria no livro” para que eles formem suas ideias, mesmo que a bruxaria seja retratada como algo ruim que é o caso de Hawjan.

É uma pena ter que falar nisso pois acaba trazendo para a obra uma discussão que não lhe faz jus.

Pode não ser o melhor livro que li no ano, mas ele já me fisgou no começo ao dizer que, assim como não julgamos a humanidade por Hittler não devíamos julgar os gênios por seus representantes malignos como Lúcifer.

A obra está povoada de considerações interessantes sobre a vida, religiosidade e moral.

O choque cultural causa alguns momentos estranhos, principalmente num certo preconceito com outras religiões (o politeísmo é visto como uma maldição) e uns dois comentários sobre as mulheres que vemos como sexistas, mas considerando as diferenças entre nós achei até bem suave (talvez isso seja parte do que levou à censura).

Senti falta de uma construção mais completa dos personagens apresentando os ambientes onde trabalham ou estudam. A narrativa fica muito concentrada nos eventos centrais da trama o que me deu uma sensação de que o universo é menor do que realmente é, mas felizmente a sucessão de acontecimentos não permite que a gente se desanime.

A parte “scifi” é a mais instigante! Creio que qualquer ocidental classificará como fantasia pois trata-se de um universo de gênios e humanos, no entanto vemos a cirúrgica tentativa do grupo de autores para inserir a essência do pensamento científico em uma cultura que está afastada dele há séculos!

É uma pena que só exista versão em Inglês para Kindle.