Fevereiro chegou obscurecido por nuvens negras e lufadas de ar quente e sufocante a começar pela face maliciosa de Loky que espreitava nossas palavras. O mundo hoje é negro obscuro para nós. O chão se encontra árido, rachado e riscado pelo sangue seco de barro vermelho.

Queremos o sono dos justos e entregar a vida aos seres que se convulsionam entre as folhas deitadas ao chão no outono.

Aqui o inverno e o outono se instalaram trazendo o sono e o recolhimento. 

Ah! Mas Orcina dos Anjos se preparava para despertar!

Por cinco dias ela se retirou deitando-se estática desafiando-nos a encontrar movimento em  sua imobilidade.

Por cinco dias dormiu preparando-se para nos ensinar os segredos da luz, o caminho do despertar.

Abriu os olhos no sétimo dia, mas nada disse. Apenas nos fitava ora convidando-nos à sua companhia, ora irritando-se com nossa fraca imaginação e perspicácia.

O sétimo dia a encontrou de olhos novamente fechados, caminhando de pés descalços sobre a Terra mal tocando sua poeira seca, mas arrastando consigo os céus que reuniram as plúmbeas nuvens e verteram mares sobre a terra por onde ela passava.

Orsina dos Anjos estava prestes a despertar. Os rios das lágrimas dos céus desenhavam histórias em suas bochechas coradas e Bastet acariciava o cabelo que lhe cobria a testa.

O chão, abrindo-se sob seus pés, formou um lago acinzentado onde seu reflexo mergulhava enquanto ela se dirigia às nuvens que se abriam para a carruagem solar vindo a chamado dos seus amigos e família.

Uns olhavam desolados o reflexo mergulhando no lago escuro, mas outros levantavam as faces iluminadas para Orcina dos Anjos sentada em sua carruagem mandando-lhes um beijo de “até mais”!

Assim morre uma bruxa, despertando nos braços de Gaia.

Imagem: Por do sol no mar – Renoir