Até janeiro é impossível passar no Centro, ali perto do CCBB e não tirar uns quinze minutos na mostra Antes – Histórias da Pré-História para lembrar das origens.
Compro um mate gelado e sento ao lado do fóssil de um orgulhoso Tigre Dente de Sabre. Através do vidro tenho a impressão de ver aquele grande chapéu com a pena espetada. Ele mesmo, quem diria, o Gato de Botas! E brincando com um gatinho!
— Bichano… Bichaaaaano… suiissuiisuiiiis…
Olho o meu reflexo no vidro, sobre os longos dentes do tigre, e pergunto a mim mesmo como ninguém mais o vê além de mim.
— Os humanos só vêem mesmo o que querem, né?
Ele responde se aproximando como se lesse meus pensamentos. Ignoro para não lhe dar o prazer de me desconsertar.
— Não pensava que você gostasse de gatos como aquele. — Digo fingindo que leio a placa do Tigre Dente de Sabre.
— Ora! Tanto quanto vocês se afeiçoam por chipanzés. Na verdade minha espécie está para o Felis Domesticus assim como a sua está para o simpático Chita!
Ele me olha com aquele sorriso de quem me prepara mais uma armadilha, mais uma chance para tirar uma hora com a minha cara. Isso está virando rotina…
— Sei… — digo reticente
— Sabe, né? A propósito… Minha espécie está para a dos gatinhos assim como a deles está para a sua, sabe?
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