Imagem: Stereotypes – Tarika Holness

Aí aparece na minha TL um cara bonito, carismático e inspirador falando que ele não é um rótulo, eu, você não somos negros, brancos, gays, lésbicas etc.

É um vídeo, claro. Vou colocar mais para baixo.

Naturalmente desconfiado eu penso “Hummm…”

Ok, a ideia do vídeo é abandonarmos rótulos, que são eles que nos afastam, trazem guerras e preconceitos. A música do vídeo é emocionante.

… Eu naturalmente desconfiado.

Quando construímos um personagem sabemos que o leitor o encaixará em rótulos para construir suas expectativa e… Aí está o primeiro problema: é a expectativa que construímos em torno dos rótulos que causa problemas.

rótulo + expectativa = estereótipo

Eu sou mais gordo que a média. Meus lábios são mais grossos e vermelhos que a média. No Brasil sou branco, na Alemanha não seria.

O problema do rótulo, e o vídeo é certeiro nisso, é construir estereótipos ao redor dessas caraterísticas: é jovem logo é rebelde; tem tatuagem, logo é promíscuo.

Se enxergamos o vídeo como uma proposta de caminho pessoal então ele é ótimo, mas a gente raramente é assim, não é mesmo? O que pensamos é “as pessoas – não eu porque eu já faço certo – precisam parar de rotular! Vou criticar quem rotula”.

Mas não quero dizer que o vídeo é ruim, mas podemos tirar mais dele.

Falei que tinha outra coisa.

O estereótipo, ou seja, a associação entre uma característica e comportamentos não é a causa, ela é consequência.

De nada adianta deixar de rotular. Deixar forçadamente de atribuir expectativas a partir de características físicas.

A propósito como a gente, todos nós, sofremos com os estereótipos de gênero que ditam nossos gostos, emoções e profissões à partir do nosso aparelho reprodutor

Criamos estereótipos para os rótulos por medo, por necessidade instintiva de avaliar nosso ambiente rapidamente, para localizar mais rapidamente novos amigos em potencial.

Desde que começamos a conquistar diversas formas de liberdade a partir do meio do século passado as ligações entre rótulos e estereótipos foram se enfraquecendo.

Desde que comecei a escrever esse post estou pensando em uma cena de uma série (não tenha medo, não darei spoiler) em que um personagem com todos os rótulos que encaixam com os estereótipos de masculinidade tem uma interessante relação homossexual.

Por isso esse assunto está aqui, porque tenho visto a literatura, filmes, séries, quadrinhos nos trazerem personagens cada vez menos estereotipados. Vale a pena observar, por exemplo, Trish e Cage na série Jessica Jones.

Pouca coisa foi melhor para a arte de contar histórias (em vídeo ou texto) que a libertação dos estereótipos.

Podemos explorar e criar universos de personagens muito mais ricos e complexos.

E quanto ao vídeo? Bem, no final das contas eu provavelmente estou exagerando e muita gente que estereotipa rótulos cairá em si. Sério mesmo. E quem já fez a transição da tolerância para o encantamento com a diversidade com certeza se emocionará com o vídeo.

Lá vai!

I am NOT Black, You are NOT White