Tenho uma firme convicção de que o nosso enclausuramento em cidades e a crença de que o que imaginamos é mais real do que o que vemos (um tipo de distorção do pensamento de Platão, talvez) nos afasta das poucas chances de viver o mundo real.

Está certo! Realidade, verdade e tudo isso não passa de retórica e não dá para falar seriamente nestes conceitos, mas quando estamos no ponto máximo da primavera (hoje) e toda a vida explode ao nosso redor e escolhemos este dia para comemorar o dia dos mortos… Chega a ser ridículo!

É claro que há explicação para isso, afinal as datas comemorativas foram estabelecidas pelo hemisfério norte, colonizador do hemisfério sul. No entanto a maioria destas festividades tem origem em cultos pagãos que festejavam o nascimento do Deus no ponto máximo do inverno (natal), o dia dos mortos no ponto máximo do outono, o dos vivos no ponto máximo da primavera (a festa em que se acende uma fogueira e pula por cima dela).

A comemoração religiosa e mesmo as festinhas descompromissadas de Halloween acabam invocando em nossas mentes – muito mais próximas dos antigos do que gostaríamos de admitir – as velhas crenças.

Fico pensando se não é ruim se afastar assim da “realidade”. Comemorar a morte quando a vida explode e a vida quando ela se recolhe para baixo da terra a fim de sobreviver ao inverno.

Quando um indivíduo se mostra incapaz de manter o elo de ligação com o senso comum ele é tido como louco… psicótico ou esquisofrênico (algum psicanalista pode me corrigir, por favor?). E quando toda uma civilização tem dificuldades em perceber os ritmos do ambiente onde está inserida?