Horácio e Hamlet vagam pelo cemitério conjecturando quando encontram um coveiro abrindo uma cova e removendo crânios antigos para abrir espaço para novos.

Hamlet toma um nas mãos e o reconhece…

“Olá pobre Yorick! Eu o conheci Horácio. Um rapaz de infinita graça, de espantosa fantasia. Mil vezes me carregou nas costas; e agora, me causa horror só de lembrar! Me revolta o estômago! Daqui pendiam os lábios que eu beijei não sei quantas vezes. Yorick, onde andam agora as tuas piadas? Tuas cambalhotas? Tuas cantigas? Teus lampejos de alegria que faziam a mesa explodir em gargalhadas? Nem uma gracinha mais zombando de tua própria dentadura? Que falta de espírito! Olha, vai até o quarto da minha grande Dama e diga a ela que, mesmo que se pinte com dois dedos de espessura, este é o resultado final; vê se ela ri disso!”

Já na época de Shakespeare havíamos criado ideias para espantar o fantasma da morte. A nobreza imortal, a imortalidade da alma, mas Hamlet se nega a aceitar e, quando olha para a carne viva enxerga a morte e a deteriorização inevitáveis.

Toda conquista tem seus preços e o da consciência é a rejeição da morte. De tempos em tempos algum artista nos chama a olhá-la no fundo dos olhos e, ou aceitar o inevitável, ou criar novas convicções. Entretanto há cargas pesadas demais e, afinal de contas, os que vivem em paz com medos como a morte não precisam buscar tanto conforto no consumo… Eles atrapalham a economia consumista contemporânea! ;-)