“Porque a vida merece ser vivida com arte pois sem ela é apenas existência, não é vida e existir não basta…”

Hoje foi o último dia do espetáculo Sopro da Cia Lume de teatro

A companhia é de São Paulo e está fazendo temporada no Rio apresentando 4 dos seus espetáculos e esse foi o terceiro. Nas próximas duas semanas eles apresentarão Café com Queijo que, conforme me disseram, é o melhor trabalho deles.

Tenho minhas dúvidas.

Shi-Zen, sete cuias (que assisti das semanas atrás) e Sopro são tão espetaculares que desconfio que Café com Queijo deve ser mais elogiado por ser mais fácil de assistir.

De Shi-Zen vou falar em outra ocasião. Hoje estou sob efeito de Sopro e vou falar sobre ele.

Antes de mais nada a frase que inicia este post não tem muito a ver com o espetáculo, mas com a minha razão de gostar de criações subjetivas como Sopro. A frase, até onde sei, é da minha autoria.

Já Sopro é mais do que uma frase, é uma alegoria da vida…

Bom, cada obra de arte pode ser muita coisa, depende do observador, mas para mim Sopro conta a história do nascimento e espiração de uma vida consciente partindo do início paradoxalmente suave já que a nova vida explode em vez de brotar, mas em Sopro esse nascimento é interno e não externo: Do ponto de vista da consciência o nascimento é lento.

Tenho que confessar que morri de sono afinal faz dias que não durmo direito por causa do nascimento dos filhotinhos da minha cadela.

Hummm… Este comentário ficou totalmente estapafúrdio aqui, mas gostei dele.

Sopro é um espetáculo que corre na velocidade lenta da vida e não na febril dança dos estímulos da sociedade do espetáculo. Em Sopro a vida é sintetizada aos seus elementos básicos como medo, alegria, deslumbramento, sexo.

O sexo aliás é um marco no espetáculo (ou eu sou um libidinoso que está supervalorizando a coisa) e foi a chave que me fez notar do que se tratava a criação cênica (Lume é mais do que teatro, é uma experiência cênica) e repassar mentalmente os primeiros 15 minutos sob esse enfoque.

À partir do sexo vemos a traumática experiência de atirar nossa criação a um mundo que se mostra diante de  nós como um abismo e – aqui posso estar exagerando na minha interpretação – sentir o tempo se esvair como se o sentido da nossa vida estivesse restrito aos furores da juventude já que, entregues os filhos ao mundo, as areias dos tempo nos jogam num turbilhão que conduz a nossa expiração.

Seja qual for a sua experiência com Sopro, entenda-o ou não, somente a experiência estética e o estado de consciência (olhando para dentro serenamente) em que nos coloca já faz dessa uma grande obra de arte, pois arte tem que nos despertar e não nos adormecer.

Atualizando em 2020: a companhia tem canal no YouTube. Segue Sei-Zen na íntegra: