Quando vi a capa na livraria offline não entendi por que, mas fui atraído por ela. É uma capa meio estranha.
Assim mesmo dei uma folheada e achei interessante.
Tenho que confessar que não conhecia Bruce Sterling apesar de adorar a estética steampunk que ele ajudou a criar!
Alguns meses depois fui falar sobre cibercultura em um congresso de tradutores e devo ter causado uma boa impressão pois tive a felicidade de ser presenteado com dois livros traduzidos por Carlos Ângelo (das próprias mãos dele): Tempo Fechado e Count Zero.
Acabei de ler Tempo Fechado e, antes de mais nada tenho que elogiar a tradução do Carlos Ângelo! O estilo do Sterling é bem rebuscado e deve ser difícil traduzi-lo!
Quando comecei a ler achei que seria apenas um tipo de livro catástrofe cheio de efeitos especiais e sem nenhum estímulo intelectual, mas eu não podia estar mais errado.
Realmente o livro está repleto de efeitos visuais que tive dificuldade em materializar pois tornados não fazem parte do meu imaginário e as ricas descrições dos movimentos atmosféricos que produzem as poderosas tempestades pontuam boa parte do livro, mas vale o esforço.
Entremeados entre boas sequências de ação temos a construção detalhada de um mundo onde o dinheiro, a propriedade intelectual, a política e, claro, o clima entraram em colapso. Sterling parece não esquecer nenhum dos novos valores que tem crescido nos caldeirões da cibercultura.
Além do ambiente que nos ajuda a repensar as bases do novo paradigma há pelo menos quatro diálogos muito interessantes sobre a jornada da humanidade. Algo inesperado nesse tipo de literatura e que certamente se perderá totalmente na versão cinematográfica.
Costurando a história temos o relacionamento de um casal de irmãos, Alex e Juanita. Personagens carismáticos, multidimensionais e que se transformam ao longo da trama.
Se tem algo que não gosto na cultura de massas modernas são os personagens que parecem feitos de uma liga de cerâmica e titânio, incapazes de mudar por mais que vivam experiências transformadoras… Por outro lado temos os personagens de novela que, de maneira totalmente psicopata, se transformam da noite para o dia sem qualquer razão. Nada disso acontece com os personagens de Bruce Sterling.
Mais uma vez, sobre a tradução, não é todo dia que encontro um texto que flui tão naturalmente quanto as conversas que ouço na rua. Temos bons tradutores no Brasil, mas algumas editoras insistem em jogar os livros para qualquer um acreditando que a cultura pop é descartável, não é…