Será que Deus é o culpado – Anne Graham

Recebi a apresentação acima por email, mas como alguém já havia publicado no Slideshare achei melhor comentar lá (visite o site para ver os comentários).

Talvez eu não devesse comentar essas coisas. Sei que quem faz tem a melhor das intenções assim como quem repassa, mas há uma premissa básica para boa parte desses  esforços com a qual não concordo:

Já existe uma resposta para os nossos problemas

Uns a encontram no capitalismo, outros no comunismo e há os que acham que está em Deus. A mim parece claro que o nosso mundo está em transformação e as respostas de ontem não servirão para amanhã. Aliás, já não servem para hoje!

Se você assistir os slides acima verá que o 11-09-01 (a apresentação certamente é a tradução de uma versão estadunidense) e os jovens atiradores são o resultado de Deus não cuidar mais de nós porque:

  • Não lemos a Bíblia nas escolas
  • Não rezamos nas escolas
  • Não batemos nas crianças
  • Vemos pornografia
  • Fazemos sexo livremente

Tudo isso supostamente contraria Deus e ele permite que os problemas morais que temos enfrentado.

Bom, temos que lembrar que os terroristas são membros de uma distorção do Islamismo que:

  • Lê a Bíblia (o Talmud no caso) em todo lugar
  • Reza nas escolas, alias em todo lugar também
  • Usa o castigo físico normalmente em crianças e mulheres
  • Não olham pornografia. Bem, não olham nem mulheres com frequência ao que parece
  • Fazem sexo com todas as restrições impostas pelo Deus Cristão (eles são cristãos, não são?)

Nesse sentido a apresentação parece até uma defesa do fundamentalismo Islâmico colocando-o como martelo de Deus para castigar os infiéis.

Naturalmente não considero que o afastamento do Deus Cristão seja a origem da nossa falência moral. Para falar a verdade nem acredito em falência moral e sim em um desequilíbrio generalizado do que é e do que não é moral em um período de transição entre uma cultura religiosa para outra que pode ser humanista ou pelo menos um novo modelo religioso mais humanista e menos teocêntrico.

Antes deixávamos de fazer o mal por medo de Deus. Quem tem medo de Deus hoje em dia? Mesmo quem crê em Deus se mostra capaz de roubar, mentir, corromper e ser corrompido.

Hoje deixamos de fazer o mal por medo da justiça ou por sermos dotados de uma consciência humanista.

É aqui, ao meu ver, que encontramos a resposta para nossa falência moral e a chave para a sua solução.

A lei humana deve ser cumprida, a impunidade deve ser combatida através da democracia participativa e de um tipo de cidadania vigilante que faça o papel que a mídia oficial já não faz mais em virtude das suas relações com o poder econômico.

Mais importante do que a lei são os princípios humanos ou humanistas se preferir.

No lugar de uma sociedade que gira em torno da aparência, do consumo da “arte” de massas cujo objetivo é entreter sem jamais instigar o questionamento precisamos despertar para o fato de que… Para vários fatos. Melhor enumerar!

  • Achar que conhecemos Deus é arrogância! Se há um Deus ele certamente não se parece com nada que podemos descrever hoje. Precisamos de humildade e coragem para recriar nosso Deus a cada passo que damos em direção à maturidade
  • Alguém tem visto Deus interferir diretamente em nossa civilização? Se ele existe provavelmente espera que sejamos capazes de resolver nossos problemas sem sua supervisão.
  • O destino da Humanidade depende da humanidade.
  • Não sejamos morais por medo do castigo, mas por compreender que é melhor ser moral, aliás, o que é ser moral?
  • Deus é um excelente modelo para uma utopia para a qual podemos direcionar a nossa consciência, mas não pode ser um instrumento para impor a nossa cultura à dos outros: guardemos nosso Deus somente para nós! Façamos das suas leis imposições apenas para nós mesmos!
  • Tolerância é intolerância educada, busque a apreciação das diferenças

Não é possível esgotar aqui os questionamentos que devemos nos fazer, escolha alguns seus!

Ao meu ver, e já disse isso muitas vezes, a arte é o ar que a consciência respira e a arte é o rompimento com o previsto, é o desequilíbrio do sistema que permite encontrar um novo equilíbrio, uma nova cultura.