Imagem: Material promocional

Muita coisa pode ser dita sobre Jessica Jones, mas vou começar com o mais importante: não farei spoilers, ou seja, pode ler sem ter visto a série ainda, certo?

Ao fazer uma crítica de qualquer coisa é bom observar tanto as qualidades e pontos fortes quanto os defeitos e pontos frágeis. É bem difícil focar nesses dois últimos porque as coisas que tornam Jessica Jones uma série muito boa comprometem nosso julgamento.

O que se pode falar de mal da série é que ela não atende à expectativa de uma história de heróis, uma série de scifi com seres superpoderosos.

A narrativa segue lenta nos primeiros episódios e só nos tira o fôlego nos três episódios finais.

Por outro lado, você não se cansou de uma visão simplista do mundo onde basta ter alguma super-qualidade para salvar o mundo e, aliás, não adianta as pessoas serem boas pois, sem um super ser, elas são vítimas impotentes?

Já vimos isso mudar bastante na série Demolidor (também do Netflix) onde, apesar de ser um herói, Matt Murdock se vê um tanto inadequado no mundo real.

Seja como for, esse ritmo mais psicológico, tenso e até depressivo pode ser visto como uma fraqueza da série.

Minha sugestão para quem quer uma realidade para fugir, um herói bem maniqueísta, bem, procure outra série.

Aliás, o trailer já apresenta bem o clima da trama:

Marvel’s Jessica Jones – Official Trailer

Já vi algumas pessoas reclamarem que agora “todas as séries querem passar uma mensagem” no caso é uma mensagem feminista. Sim. Homens e mulheres que percebem como o machismo é ruim para todos se identificarão com a trama ainda que, claro, sempre tenha espaço para alguém mais revoltado achar defeitos. Na presença de homens na série, mas aí já acho que se trata de misandria.

Ora, toda criação tem um viés e no que diz respeito a rótulos de gênero é inevitável ir para um lado ou para o outro.

Provavelmente se incomoda com as “mensagens” de Jessica Jones quem abraça os velhos estereótipos de características masculinas e femininas.

Ainda outro dia vi um artigo sobre como a personagem Ripley de Aliens era uma mulher forte. Mas os estereótipos que a fazem parecer forte são justamente os de “macho”.

Em Jessica Jones tanto as mulheres quanto os homens são fortes de outra forma e isso foi o que mais me impressionou.

Ah! Você notou que já passei para as qualidades da série tem um tempo, não é? Então, lamento, mas é que realmente estou com dificuldade em dar importância para os defeitos (que são quase todos questão de opinião).

Então, o que é uma pessoa forte? É aquela que consegue reprimir suas emoções? Impor autoridade? Se mostrar superior? Controlar os outros? Ou será aquela pessoa que encara seus demônios internos, que assume responsabilidades, não foge das suas fraquezas?

É o segundo tipo de força que vemos mais facilmente tanto nos personagens masculinos quanto femininos dessa série. Na verdade há até momentos em que o comportamento “macho” é justamente o mais frágil. Algo que, francamente, está mais perto da realidade.

Uma série como Jessica Jones é possível porque é feita para um público bem específico, os hiperconectados assinantes do Netflix. Isso dá bastante assunto para o meu outro blog, o Meme de Carbono. Aqui vou deixar só a reflexão sobre como a aproximação humana promovida pela Internet nos torna mais empáticos.

Outro ponto muito forte da série é a personalidade limítrofe e fragmentada da Jessica que, a propósito, me lembrou do instigante The Tracey Fragments:

Jéssica, percebemos já no trailer, está tentando sobreviver a uma relação perversa.

Relações perversas infelizmente são muito comuns. Homens e mulheres perversos invadem suas vítimas com lâminas de culpa e obrigação esculpidos para se aproveitar do que suas vítimas tem de melhor, sua humanidade.

Claro que no caso da Jessica o poder de persuasão é muito maior (está no trailer também), mas na prática é basicamente a mesma coisa.

É muito bom ver esse tipo de viés em um momento que chegamos cada vez mais perto de perceber que existe, sim, um tipo de ideologia de gênero que induz homens e mulheres a se encaixarem em estereótipos que são culturais e não naturais.

Principalmente porque não tem nada de panfletário (seria uma falha se fosse), muito pelo contrário. A história flui com naturalidade e nós apenas vamos admirando cada vez mais aquelas pessoas. Sim. Pessoas e não personagens, pois quando olho ao redor vejo várias Jessicas Jones, Trishs, Malcolms, Luke Cages e, claro Kilgraves além dos outros ao meu redor.

Tudo que você precisa saber sobre Jessica Jones talvez seja o seguinte: não é uma série para fugir da realidade, é uma série olhar para ela com outros olhos.

Fonte: Material promocional da s?rie
Fonte: Material promocional da série

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