Esse é o terceiro conto do projeto #UmSábadoUmConto (clique para conhecer e ver os outros)
O Conto
Este sou eu comendo sozinho na praça de alimentação do shopping… Preferia ter companhia, mas pelo menos aproveito um pouco a hora do almoço para passar a matéria da facul de logo mais à noite.
– Oi Ricardo!
É o Jorge chegando para pegar o trabalho só agora na parte da tarde. Dei um tchau para ele e um sorriso meio amarelo. Nem foi de propósito, o cara é maneiro. O sorriso só saiu amarelo porque estou pensando no que li. Bem, o dia de todo mundo está cheio de sorrisos amarelos e se formos ficar encucados com todos eles vamos achar que o Universo nos odeia.
Ainda tenho meia hora antes de ter que voltar e ajudar pessoas a escolherem roupas que combinem com elas? Meio chato, mas ajuda a pagar os livros e outras coisas da faculdade. Como são caros os livros de administração! Paciência, vai valer a pena no futuro! O que não dá é para viver a vida toda de bicos em lojas… Ou dá, né? A gerente da loja não fez faculdade e está lá com um bom salário, mas, pô, tanta gente no mundo que não tem chance de estudar? E quanto mais a gente sabe melhor. Não quero depender da sorte. Melhor voltar à leitura antes que eu lembre da Rachel… Merda… Lembrei…
Olha aí o meu coração batendo na garganta! Acho que vou no posto de saúde, isso deve ser doença! Mas só quando lembro dela? Droga! Tô apaixonado! Que ideia estúpida se apaixonar numa altura dessas! Primeiro que, se ela souber, vai rir de mim. Homem não se apaixona, homem vai chegando e marcando sua presença, a mulher tem que saber que ele não precisa dela.
Porque a Rachel? Tá cheio de mina que dança melhor que ela, mas tem uma coisa no jeito que ela balança os cabelos encaracolados, no jeito que ela olha ao redor com aqueles olhos castanhos claros e no rebolado meio sem jeito, mas hipnótico. Até já notaram que fico meio vidrado olhando para ela no meio do baile funk, mas não é com aquele olhar de lobo faminto, é como olhar para um nascer do sol especialmente bonito. Espero que ninguém tenha contado para ela.
Até hoje não conversamos, quer dizer, dei um jeito de me enturmar com a galera dela, mas não puxo assunto porque tenho certeza que vou parecer um babaca, então faço o desligadão, converso sobre o que tá todo mundo falando e não dou muita bola se ela puxa um assunto novo. Vou seguindo pela tangente, saca?
Depois de amanhã tem baile funk lá perto de casa. Será que ela vai? Na semana passada ela não foi, disseram que era período de provas. Ela cursa biologia, primeiro período também. Nem todo mundo entra para a faculdade com 19 anos como eu e ela, tem gente que entra bem mais tarde. Tá, tem quem entre bem mais cedo também, mas cada um tem suas oportunidades e tem gente que faz um monte de faculdade. Ainda não sei se vou fazer isso, mas ela tem todo jeito de que vai estudar muito na vida. Tá no jeito dela falar, dos olhos brilharem quando ela fala de alguma coisa que tem a ver com a facul dela.
Pode ser maluquice minha, coisa de nego apaixonadinho! Droga! Acabou meu horário de almoço e não li nada da matéria de hoje, vou ter que ler no busão, droga…
– Ricardo, tudo bem? Tô precisando de umas camisas novas
Como é mesmo o nome desse cara? André? Alexandre? Wesley? Nem faço ideia. Bem pelo menos lembro qual é a vibe dele: listras, estampas descoladas. Normalmente ele vem com o namorado aqui uma vez por mês mais ou menos. Eles tem lá seus quase quarenta e parece que são um casal maneiro, nunca vi os dois brigando e sempre tem casais que você percebe que se aturam, que estão juntos só para não ficarem sozinhos ou porque curtem uma relação doentia onde um está sempre disputando com o outro para ser o mais troll.
Fico pensando que só dá para ter um relacionamento mais estável depois dos trinta. Antes disso é muito apelo para a putaria, ninguém quer nada sério antes dos trinta que é quando cai a ficha que a gente não vai ser jovem para sempre e que passar o sábado de noite em casa na companhia das paredes ou do Netflix é muito triste.
– Veio sozinho hoje? É para você ou é um presente? – Eu pergunto para ver se me situo.
– O Daniel tá no trabalho, só eu que ganhei uma folga hoje. Acho que vou levar alguma coisa para mim e outra para ele. O que você tem amarelo aí? Acho que essa primavera está pedindo amarelo.
É legal quando o cliente é tranquilo, tenho boa aparência, deixei a barba crescer para parecer mais velho e confiável, mas assim mesmo tem uns clientes que vou te contar, viu? Esse é educado e na dele. No máximo reclama que a loja pegou pesado no preço de uma peça ou outra de roupa, mas não trata o vendedor como se a culpa fosse nossa.
Só que isso me fez pensar ainda mais na Rachel. Merda! Porque esperar mais dez anos para ter um lance sério com alguém? Tá ok, eu mando bem na putaria, todo baile me arranjo com uma guria gostosinha e cheia de amor para dar. Geralmente nem elas nem eu queremos muito mais do que uns pegas. Tem uma ou outra que dura um pouco mais, rola um sexo aqui ou ali, não fico no aperto, mas ninguém quer compromisso.
Quer dizer, eu até queria. A Rachel é a fissura (e olha que o máximo que fizemos foram beijinhos na bochecha), mas é claro que volta e meia tem uma que tem bom papo e dá uma vontade de levar a sério, mas fico na minha e elas também. Alguns dias depois até me pego pensando nelas. Tem a Isadora. A gente fica meio que se namorando de vez em quanto, tipo amizade colorida, mas só quando ela não está com ninguém porque ela é assim. Só fica com um de cada vez. A primeira vez que a gente ficou foi há três anos quando eu tinha dezesseis e ela quase quinze. Estudamos na mesma escola e, entre os namoricos, ela é uma boa amiga, mas não para falar de namoro!
Acho que nosso lance é só preencher a necessidade de carinho do outro. O que rola entre nós não é aquela coisa de tirar o fôlego, de ficar pensando no outro a ponto de ficar tonto e ter vontade de dormir até chegar de novo o dia de se encontrar novamente. Só conversamos sobre bobeira, tipo séries e filmes, às vezes sobre política.
Com a Rachel é diferente. Fico calado só ouvindo porque tenho certeza que vou dar na pinta que estou querendo impressionar, mas ouço atentamente o que ela tem a dizer! Ela é cheia de causas parecidas com as minhas.
Volta e meia tem um malandro que se aproveita dos rebolados das meninas para tirar um sarro deschavado, ela não deixa barato, vira, olha na cara do sujeito e manda um “te conheço? A mercadoria aqui tem dona, viu? Euzinha! Passa para outra, valeu?”. Já a vi puxar uma amiga pro canto também e conversar algo tipo “Tô vendo na tua cara que você não tá curtindo. Presta atenção, quem manda em você é só você mesma! Se o cara não te respeita manda rodar!”
Foi com ela que aprendi o que era feminismo e descobri que também era feminista, que essa história de machismo é ruim para todo mundo: para a mulher que não tem respeito e para os homens que não podem ser o que quiserem, não podem demonstrar emoções, não podem gostar desse ou daquele tipo de música, não podem nem gostar de ler.
Acabo fazendo o jogo do machismo porque a gente tem que ter amigos, né? Quer dizer, temos que ter uma turma e não existe isso de turma feminista.
A tarde seguiu tranquila, poucos clientes que gastaram bastante, vai colocar a comissão em dia e vou poder ir ao cinema tranquilo com a galera amanhã!
Meia noite… É foda pegar o ônibus meia noite para casa do outro lado da cidade… Pelo menos é rapidinho, só quarenta minutos. Daria quase duas horas se fosse mais cedo. É claro que a gente vai rezando para casa para o motorista não jogar o ônibus para fora de um viaduto pelo jeito que eles vão voados! Pelo menos a essa hora não tem velhinhos. Cara, dá raiva quando a gente vê aquele velhinho andando com a maior dificuldade e o motorista arrancando sem dó nem piedade! Pelo menos acho que tenho visto mais gente se levantar para eles sentarem.
Chego em casa e já tá todo mundo dormindo, minha irmã de 12 tem atividade todo sábado de manhã no clube da comunidade. É um refresco para a nossa mãe que cuida sozinha de dois filhos, pelo menos ela teve só nós dois. Meu pai ninguém sabe se fugiu de casa ou se sumiram com ele… Acontece muito e a gente nunca sabe se foi o tráfico ou a polícia que sumiu com as pessoas que estavam no lugar errado na hora errada. Eu tinha nove anos quando ele desapareceu e minha irmã tinha só dois. Acabei sendo meio pai dela, mas temos aquelas brigas de irmão para usar o computador que fica na sala.
Eu e minha mãe nos viramos em três para ela não ter que trabalhar. Muita gente não tem essa visão de investir em estudo para ficar melhor mais para frente, suar um pouco na juventude para poder melhorar de vida e não ficar se preocupando se vai ter comida no prato na semana seguinte.
Já tivemos que usar bolsa família quando acabaram com os gatos da comunidade e tivemos que passar a pagar pela energia. Os mais revoltados com as injustiças reclamam, dizem que luz de graça era o mínimo que a gente devia ter já que não temos mais nada, mas, na boa? prefiro assim. Sério mesmo.
Acordo com a Sabrina, minha irmã, perguntando se vou vê-la nadar mais tarde. Me lembrando que vai ter competição de revezamento e ela está na equipe. Eu tinha esquecido, mas dá tempo, o cinema é só às cinco da tarde e dá para sair da competição direto para lá. Quer dizer, o cinema é mais tarde, mas é bom chegar às cinco para comprar os ingressos. Na pior das hipóteses posso pedir para a Joana ou a Mari comprarem, elas moram perto do Nova América e sempre chegam mais cedo, compram os ingressos delas onde possam ficar juntinhas namorando sem serem incomodadas durante o filme, tem aquelas fileiras com três ou quatro lugares nos cantos por exemplo e é melhor ainda para elas se os outros lugares forem ocupados por amigos que não sejam homofóbicos malucos.
Bem, já que acordei, vou tomar um banho, dar uma olhada no Facebook, ver uns vídeos no YouTube, ler uns artigos e estudar um pouco aproveitando que o computador será todo meu pelas próximas horas.
O tempo voa quando a gente está online, né? Quando me dou conta só tenho meia hora para estudar. Em vez disso vou ver se acho aqueles livros caros para baixar de graça de algum lugar. Ler no tablet é meio esquisito, prefiro papel, mas com o preço de quatro livros eu compro um tablet, não dá, né? Devia ter um bolsa-livro… Bem, quem sabe?
Consigo achar só um e deixo baixando, a Internet é lenta e não quero atrasar para a competição da Sabrina.
No caminho para lá vou pensando em como a Joana e a Mari estão juntas há Quanto tempo? Uns três anos? Cacete! Acho que elas tem vinte e dois, vinte e quatro anos, então namoram a sério desde os dezessete ou vinte e um anos. Acho que a Mari tem vinte e quatro.
Tem o Carlos e a Flu que são um pouco mais velhos, na faixa dos vinte e sete, eu acho, mas estão juntos desde os vinte ou vinte um.
Porra, tem gente que namora a sério, quer dizer, já vi que eles tem altos e baixos, mas batalham legal pela vida e pela relação. É muita sorte achar alguém que também quer coisa séria.
Outro dia… Opa, vem vindo ali os caras da milícia. Geralmente é tranquilo, mas a gente nunca sabe o que vai rolar. Principalmente quando o pai da gente sumiu. O lance é seguir sem dar na pinta, como se eles não estivessem ali a menos que eles digam “E aí?” ao que temos que responder “Tô de boa!”.
No geral é tranquilo, não é muito diferente do que a Rachel vive no dia a dia dela quando sai do seu apartamento no asfalto e passa pela polícia ou aquelas matilhas de trombadinhas. Outro dia foi a Isabel que chegou toda trêmula na balada contando que viu que uns dez moleques estavam cercando ela e que teve que sair correndo. Ela parece ter uns 24, mas tem mais de trinta, dois filhos e vive do teatro, é atriz.
Não tem essa de viver em redoma de vidro, cara, fico pensando na Rachel andando sozinha a maior parte do tempo como outras amigas. Cidade grande não é para os fracos, mas cidade pequena? Sei lá, nunca vivi em cidade pequena, mas acho que os horizontes são muito mais curtos. Na cidade grande a gente pode sonhar mais longe, ou será que não?
Então, outro dia eu estava lendo que a maioria dos jovens reclama que os relacionamentos são muito superficiais, que os outros jovens são egocêntricos e só pensam em suas carreiras ou no prazer imediato, geralmente no prazer imediato.
Super me identifiquei com a matéria, mas não entendi isso de “a maioria dos jovens reclama”. Meus amigos não parecem se incomodar nem um pouco. Todos eles são exatamente como diz a matéria… Acho que até a Rachel. Nunca a vi com um namorado sério e ela está sempre muito concentrada nos seus objetivos. Pelo menos ela não é só do prazer imediato.
Tipo, ela fica com uns caras, se joga no baile, mas sei pelos amigos em comum que ela não perde o foco dos estudos. Ela já tá de olho em onde vai estagiar e tudo mais.
Nem lembro como cheguei no clube! Fui tão imerso nos meus pensamentos… Quando me dou conta a Sabrina tá pulando em cima de mim toda molhada dizendo para eu sair do mundo da lua e prestar atenção que a equipe dela é a próxima!
A pirralhinha nada, viu? Não ficaram em primeiro lugar, na verdade ficaram em quarto, mas vejo nos olhinhos dela pulando lá na piscina comemorando que uma das melhores amigas tá na equipe que ficou em segundo e, afinal de contas, ela nadou bem.
Vejo que elas já vão para o vestiário e que vão fazer alguma coisa depois e qual é a irmã de doze anos que quer um irmão de dezenove por perto, né? Ainda bem! O José tem que acompanhar o irmão dele para todo lugar, imagina aturar um bando de criança com menos de quatorze anos!!
Dou um sorriso para ela, mando uma figa (só eu mando figa para as pessoas, uma mania minha que sempre tenho que explicar) e uma piscadela para ela e vou me adiantando para o shopping.
Tem dia que o ônibus voa! Chego lá e encontro só a Mari e a Joana, já com o meu ingresso e o delas (mandei WhatsApp para elas mais cedo pedindo para comprar o meu).
Pago uma parte do lanche para compensar o preço do ingresso e fico meio caladão na mesa. Sei lá por que estou mais parado na Rachel hoje do que de costume.
– Será que o Ricardo não vai tirar esse chinelo da cabeça?
– Acho que não Jô, acho que só o corpo dele tá aí na frente e o resto tá afogado lá na piscina
Acho que foi o afogado que me fez acordar e só depois me toquei que tinha ouvido alguma coisa sobre chinelo na cabeça. Mari e Jô riam da minha cara, as mãos dadas discretamente por baixo da mesa.
A Jô é meio mãezona, sabe? Daquele tipo que: um, sempre sabe que estamos com algum problema e; dois, tem um jeito infalível de nos fazer colocar para fora. Ela está olhando fixamente para mim e a Mari reveza entre nós dois como quem olha um jogo de tênis, os olhinhos dela sorridentes, acho que é amor.
– Desembucha logo, Ricardo! – É a Mari que fala, a Jô só me olha. É que ela sabe que, quando a Jô tá determinada não adianta tentar resistir.
– Jô, Não é nada… – Olho para ela e vejo que não vai dar certo e vou ter que desabafar mesmo, mas como elas poderiam entender? Elas não são como a maioria das pessoas – Cara, é o seguinte, não sei se vocês podem ajudar porque vocês são diferentes, né? Ninguém quer namorar a sério, mas vocês querem. Tão aí juntas faz um tempão. Vocês e o Carlos e a Flu. Eu não tenho uma Flu… Quer dizer, tenho a Isa, mas o nosso lance é só meio que preencher o vazio um do outro, não quero ficar com ela para sempre e duvido que ela queira ficar comigo, os namorados que ela arranja são totalmente diferentes de mim, até fisicamente.
A Jô e a Mari se entreolham por uma fração de segundo e viram juntas para mim. Quem fala é a Mari.
– Ric? Você sabe como o Carlos e a Flu se conheceram?
Eu sabia sim, rolou o papo algum dia numa roda onde uns fumavam maconha, outros não fumavam nada e alguém tocava violão e cantava. Tinha sido em um jogo de futebol, aliás em vários. Eles se esbarravam sempre porque tinham amigos em comum. Sempre se provocavam até que um dia deu um treco neles e quando viram estavam se beijando. Foi o que falei para a Mari.
Elas pegaram minha mão direita para me fazer perceber que iam falar muito sério e começaram a falar. Era engraçado porque cada uma dizia um pedaço e as coisas iam se encaixando, algumas vezes elas discordavam e a outra dia “não, sua boba” e corrigiam, mas fui montando o que elas tinham a dizer.
Casais acabam andando com casais, aquela coisa de vela, né? O pessoal que tá na pista acaba encontrando com o pessoal que está numa parada séria só para curtir, acabam não entrando tanto nas histórias de “a gente começou assim” dos namorados sérios.
Quando as duas se conheceram elas só estavam pensando em curtir a vida, não queiram nada sério com ninguém e acabaram descobrindo que era tão bom estar uma com a outra que ficar sozinhas era mais fácil e quando rolava de irem só as duas para algum lugar sem uma galera não era chato, pelo contrário, elas ficavam falando de tudo e o tempo voava. Nem é que concordassem, mas acham maneiros os pontos de vista uma da outra.
Já com o Carlos e a Flu tinha sido bem diferente e era assim com boa parte dos casais que elas conheciam como o Marcelo e o Sidney ou a Helô e a Clara: eles demoraram um tempão para se declarar porque tinham certeza que o outro só queria putaria e não queriam ser só mais uma pegação na vida do outro e, enquanto isso, iam ficando com uns e outros.
Aí uma das duas disse “pera aí, eu achei que você só queria putaria e eu era a séria da relação” ao que a outra disse que não, que era o contrário e começaram a rir comparando momentos que provavam suas teorias.
Me recostei na cadeira, elas já tinham soltado minha mão há um tempão, rindo da cena… Casais como elas nos fazem sentir leves! Espero que elas sejam assim para sempre!
Quer saber? E se cai um edifício na minha cabeça amanhã e eu morro sem ter tentado? Vou mandar um WhatsApp agora para a Rachel perguntando se ela topa um cinema um dia desses!
“E aí? Você topa um cine um dia desses? Bjs, Ric”
Coloco o celular na mesa e fico olhando para ele, para o botão de enviar.
Quando me dou conta a Mari está acenando para alguém, olho para trás. É a… Rachel??? Eu hein? Não sabia que elas se conheciam!
– Oi Quel! A gente vai na sessão que vai rolar daqui a uma hora e meia, tem uma galera vindo. Esse aqui é o Ric. Ric, essa é a Quel.
– E a? Rachel, tudo bem? A gente já se conhece Mari.
– Perfeito! – É a Jô que toma a iniciativa – A gente comprou três lugares na fileira M, naquele pedaço que só tem quatro lugares, corre lá e pega o M22 que ficamos juntos!
Enquanto ela vai comprar eu viro o meu celular e mostro para as duas. Elas arregalam os olhos e dizem “Ela?…” e “Cara! Ela é uma fofa!”, “Pô, tudo a ver!”.
Quando ela volta ainda temos mais de uma hora para bater papo, o restante da galera vai chegando, uns com calma, outros esbaforidos, mas pela primeira vez mergulho no papo com a Rachel sem pensar no que ela vai pensar de mim, sou apenas eu mesmo e vejo que ela é apenas ela mesma. Quando nos damos conta é como se estivéssemos sozinhos no meio dos quase vinte amigos que falam como se fossem uma matilha de lobos.
Por algum motivo quando vejo estamos falando do artigo que eu li outro dia, em como as pessoas estão egoístas demais. Ela não tinha lido a artigo, mas concorda e completa que a gente precisa de amizades como as do Harry Potter, gente em que possamos confiar e contar as coisas, compartilhar momentos bons e momentos difíceis.
Digo que penso exatamente isso e, quando percebo estou dizendo que queria dizer isso para ela há muito tempo, mas tinha medo dela me achar bobo. “Então somos dois bobos! E a Mari e a Jô ali também! Ainda bem, né?” e solta um riso que faz meu coração esquentar.
O processo criativo
Relembrando as regras:
- Só posso ver qual será o tema, público e época na hora de começar a escrever
- Tenho que terminar o conto até meio dia
- Sempre que eu der uma pausa vou marcar escrevendo [8:02] parei para revisar[8:35]. Isso quer dizer que fiquei pensando por 33 minutos. Assim você não precisa ficar assistindo em tempo real para saber quanto tempo demorou cada trecho.
[8:11]Comendo alguma coisa hehehe[8:14]
Vou ver o resultado dos votos…
Somente 5 votos. Ou só eu estou gostando de fazer isso ou realmente preciso pensar em jeitos melhores de divulgar hahahahaha!!
Bem, deu romance, jovem, presente:
Tema | Público | Época | Votos | ||
Terror | 0 | Infantil | 0 | Passado | 1 |
Romance | 3 | Jovem | 3 | Presente | 3 |
Aventura | 1 | Adulto | 2 | Futuro | 1 |
Suspense | 1 |
Processo criativo
[8:20]
Me comprometi a não repetir as formas de buscar inspiração para escrever. Tenho 11 já listadas.
A primeira foi totalmente intuitiva partindo de uma imagem que me ocorreu enquanto pensava no tema.
A segunda foi pensar em um tema a abordar. No caso foi o mundo assombrado pelos demônios quando nos deixamos levar por uma visão supersticiosa.
Para um romance jovem vejamos…
[8:23]Escolhendo a forma[8:27]
Pensei em construir em torno de uma personagem interessante, mas achei mais legal pensar em uma situação que dificulte o romance pois acho que assim pode resultar em um conto mais útil para os leitores. Jovens estão sempre precisando resolver situações difíceis pois esse é um segundo período de descobertas, não é?
Na infância estamos descobrindo o mundo, na juventude estamos descobrindo nós mesmos e os outros. Enfrentando dilemas como “devo ligar?”, “O que tem de errado em mim que não consigo ficar com ninguém?”, “Será que meus relacionamentos são muito profundos? Será que são muito superficiais?”
A questão agora é decidir que situação será essa.
[8:32]Decidindo[8:38]
A dificuldade está nas inseguranças sobre onde investir esforços: o protagonista tem 19 anos e precisa se preocupar em estudar e trabalhar. Tem sua vida e problemas pessoais e não quer ter relacionamentos superficiais, mas será que tem tempo para buscar isso? E as pessoas ao redor dele não acreditam em relacionamento sério, todos querem só a pegação e ele assume que a maioria das pessoas é assim, mas será que são? Será que a menina de quem ele não consegue tirar os olhos, que não sai da cabeça dele é assim também? Será que as outras pessoas realmente acreditam no que estão dizendo ou simplesmente acham que serão ridicularizadas se disserem que sentem falta de um namoro sério?
Ele é morador de uma favela e ela mora no asfalto, mas isso precisa ser apenas um pano de fundo e não um dificultador. Eles se conhecem num dos bailes funk que rolam numa quadra perto do asfalto. Esse ambiente me parece muito comum na faixa dos 20 anos, mas dificulta um pouco a escrita porque é necessário não cair nos preconceitos.
Hoje estou mega-desinspirado e o tema não é dos meus mais fortes, mas essa é a ideia: desafios ;-)
Ah! Vou fazer em primeira pessoa para colocar o leitor mais na pele do protagonista. Ricardo acho que é um bom nome, né?
[12:52] Demorei a engrenar, só comecei a gostar do conto no final e acho que devia continuar, mas extrapolei muito meu limite de quatro horas escrevendo e decidi deixar assim[fim]
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