O corredor estreito parece se estender ao infinito. Lançando o olhar para frente, esticando a cabeça e espremendo os olhos ela tem a impressão de que ele se vira lentamente para a direita.
O chão de tapete vermelho de cerdas grossas está coberto de espelhos quebrados que ferem seus pés descalços enquanto ela segue adiante somente porque não há mais o que fazer.
Nas paredes de madeira trabalhadas como portais em arco os espaços vazios dos espelhos há muito estilhaçados a observam como olhos cegos, alheios.
Nos estilhaços espalhados os reflexos se juntam formando um mosaico com detalhes do seu rosto, do teto pintado para simular o céu, das paredes e do pesado tecido que ornamenta a sanca. São imagens assustadas, curiosas e intrigadas que olham para todos os lados em busca de respostas, de um ponto seguro onde possam descansar e se esquecer do caminho.
Suas pegadas de sangue a seguem mergulhando na escuridão onde ela deixou seus antigos “eus” e ela segue em frente até deixar para trás as paredes vazias e chegar a outras onde espelhos bem polidos refletem com perfeição todas as coisas que não estão ali, mas por ali já passaram ou virão a passar, como seus sonhos, seus medos, suas ilusões.