“Pai! Acabou, pai!”

Do outro lado o seu Odair não entende nada! Que voz era aquela que veio logo respondendo que “acabou!” ao seu “Pronto! Mercado do Odair, boa tarde!”?

Ah! Sim! Ele tinha um filho na capital, lá em São Paulo… É mesmo.. Mas o que teria acabado?

“Como é? Jair, é você meu filho? O que é que acabou menino?”

“Acabou a grana pai! Tô sem um tostão no bolso! Faz três dias só como pão e mesmo assim porque dei um jeitinho! Lavei umas coisas na padaria… e cuidei de carro na rua!”

O coração de seu Odair apertou! Eles não tinham lá muita coisa, mas ali na terrinha deles, na pequena cidade com meia dúzia de ruas e pequenas fazendas pobres espalhadas ao redor bem longe, mas bem longe mesmo… Ah! Lá pelo menos sempre tinha um bom mocotó ou uns cajús para comer!

“Mas você não estava com emprego certo, filho? O que aconteceu? Volta para casa! Sua mãe tem saudades de você, menino!”

Do outro lado da linha vinham barulhos ruidosos de carros e o chiado das portas pneumáticas dos ônibus. No fundo de tudo parecia haver um soluço abafado… Choro de arrependimento, desespero, sabe-se lá…

“Tava tudo bem meu pai! Trabalhava em obra e fazia cursinho de noite, estudava, entende meu pai? Mas ai a construtora teve problema, teve que demitir… Pelo menos o cursinho ainda posso fazer… É grátis, sabe? Numa Igreja!”

E para que aquele menino precisava de estudo! Seu Odair não tinha quase nenhum! Aprendeu a fazer conta nos dedos e ninguém lhe passava a perna no mercadinho!

“Mas então volta dai para cá filho! Eu tenho um dinheirinho aqui que deve dar para sua passagem! Volta que sempre tem precisão de alguém de confiança aqui no mercado!”

Silêncio na linha, ou melhor, apenas o ruido caótico de vozes, passos e o ronco de motores. Depois de vários segundos a voz do filho vai subindo aos poucos do meio de todo aquele ruído… Uma voz resignada, cansada…

“Me acostumei aqui meu pai! O senhor não imagina como é este mundão de prédio! As coisas maravilhosas nas vitrines das lojas, os carrões que andam pelas ruas! A belezura das moças que andam com roupas chiques…”

Mais uma longa pausa, o pai se cala sem saber o que dizer sobre tantas coisas que ele nunca viu… Quase se pode ouvir o batimento do coração escravo do filho do outro lado da linha.

“Pai! Fica ai no mercadinho! Não vem para cá não, viu? Esta terra só tem estrada chegando e nenhuma saindo! Eu ligo quando der! O cartão que achei no chão tá acabando!! Benção meu pai!”

“Deus te abençoe filho! Deus te…”

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