Imagem: Jenn Richardson

– Como vamos escapar dessa ilha assombrada, Scooby?

– Olha! Ele estava disfarçado para nos assustar, mas não vamos fugir, não é mesmo?

O jovem rapaz falava alto encenando vozes e encadeando um longo episódio inventado da turma do Scooby Doo. O raciocínio rápido, mas errático.

Uma voz quase inaudível interagia com ele entrando nos devaneios, participando carinhosamente da aventura.

Olho discretamente, parecem irmão e irmã. Ele um pouco mais velho que ela, ambos pouco acima dos vinte anos.

– Vem para cá Zequinha

Como traduzir em palavras o tom suave de uma irmã que entende e cuida do irmão que vive em um mundo muito diferente do nosso?

Melhor? Pior? Certamente suficientemente diferente para que ele tenha dificuldade em participar do ciclo produtivo e do sustento da casa… Talvez não. Talvez eu esteja julgando apressadamente.

– Quem é ele? O namorado dela? Mas ela é muito baixinha para ter um namorado!

A provocação me lembra do tom divertido de pré-adolescentes muito amigos e a resposta sussurrada pela irmã soa para mim como um afago carinhoso nos cabelos do irmão.

– Vamos ficar presos aqui! – Realmente parecia que a fila não se dissolveria jamais, no entanto não era com medo, mas com um toque de aventura que o jovem constatava o fato.

Dessa vez escuto o sussurro da irmã.

– Não vamos! Já tenho um plano para escapar!

– É mesmo? Que plano é esse? – E foi com a voz do Scooby que ele falou dessa vez…

Preferi não interagir com os dois pois o mundo em que eles viviam, apesar de fisicamente próximo, estava claramente em outra dimensão onde achei que eu seria um intruso.

Apenas sorri discretamente na esperança que a irmã percebesse como achei linda a relação dos dois e me afastei com minhas compras deixando os dois jovens simples, de chinelos de dedo e roupas que os colocam ainda em outra dimensão que não posso ver claramente, a dos habitantes de comunidades ou das ruas…