Venho de ônibus pela orla do Rio, o mar revolto na Barra, o vento forte arrancando carneirinhos brancos das cristas das ondas. Misturados na areia os paraquedas especiais que puxam pranchas pilotadas por solitários homens grisalhos ou jovens em suas sofisticadas roupas de mergulho, grupos de suburbanos fazendo aquela velha farofa e finalmente os pagodeiros nos quiosques.
O sol forte, mas suave, da primavera desperta o milagre da vida cobrindo a cidade de flores e verdes folhas. O pólen no ar faz alguns espirrarem mais do que o de costume e outros, como eu, sentir a garganta arranhar.
À porta da Rocinha os estudantes da rede pública, sorrisos largos nos rostos alegres, se cumprimentam. Uma menininha que vem dizer olá coberta de expressões de carinho.
Acompanhado de tantas cenas de vida a hora de engarrafamento que me espera entre a Gávea e Botafogo passará bem mais leve.
No meio do caminho continuo assistindo o desfile de gente colorida, as cores ficam mais vivas na primavera, pelas calçadas movimentadas do Rio quando um grupinho de seis meninas, lá pelos seus onze anos, passa de rostos maquiados, faces empalidecidas, olheiras profundas bem desenhadas, as roupas de vampiras, esqueletos e outras coisas sinistras e obscuras. Só então me dou conta, Dia dos Mortos…