“plack” — Com a delicadeza de um adolescente o fone cai sobre a sua base.

Lá fora a lua cheia já começa a ficar oval e não demora muito se esconderá novamente atrás dos morros onde horas atrás pipocavam tiros da guerra constante contra o tráfico, mas ao lado daquele telefone se estira na cama um rapaz que não se importa com nada disso agora! Afinal ele acaba de combinar um encontro para depois da aula no dia seguinte.

É melhor do que isso! Ele passou quase uma hora com ela no telefone!

Aos treze anos os traços de criança começam a dar espaço para feições mais rígidas. No entanto ainda é o brilho da descoberta o que faisca em seus olhos, ele disfarça como pode, mas dentro do peito o coração bate descompassado. Amanhã ele espera seu primeiro beijo! Nem importa muito se para ela também será, o que ele quer é sentir o perfume dela e ficar bêbado, sentir o calor da lingua de uma menina e abraçá-la forte.

Ele ainda não sabe como tremerá da cabeça aos pés e como ficará tonto enquanto dá os primeiros beijos no cinema enquanto um filme que eles não verão é projetado na tela. Nem imagina como as palavras lhe faltarão quando ela, atrevida, esfregar sua mão sob a sua camisa e até mais além. Descobrirá tarde demais que os limites são definidos por ela e, apesar das pequenas mãos perfumadas poderem arranhá-lo ele não terá permissão para fazer o mesmo.

Ah! E as despedidas atrás de um poste escondidos pelas sombras? A descoberta do pequeno piercing que ela usa no umbigo e os sussurros de aprovação dela para suas confissões de desejo?

Pelas madrugadas das grandes cidades o desejo chega mais cedo do que a sombra da maturidade, ou talvez não!