Uma tela em branco: é um convite para você pintar sua própria imagem para este post. No final deixarei o link para a pintura que o inspirou.

Nossas histórias são uma infinidade de telas em branco que podemos pintar de acordo com nossas memórias, expectativas, estados de espírito, sonhos e devaneios.

O céu azul, pincelado com nuvens entre o branco que reflete a pureza que emana da Terra e o chumbo da chuva que pode estar planejando cair suave está sempre ali independente dos nossos olhares tímidos ou talvez embaçados pelos pensamentos que nos ocupam.

Também o mar, desafiador e profundo mesmo quando nos murmura suavemente a sabedoria das eras passadas, está ali independentemente de nós, assim como as montanhas que se erguem no meio das águas à distância, sinuosas, antigas, firmes como o chão que gostaríamos que estivesse sob nossos pés, como o espírito imortal que desejamos ter.

A areia… Suavemente tingida com a cor do barro talvez pela luminosidade poente, talvez pela população de microrganismos deixados pelas populações humanas que trafegam por elas, mas que agora estão recolhidas deixando a praia bucolicamente vazia.

E se não tivesse ninguém para descobrir essa paisagem… Seria ela diferente? Como será que a árvore logo ali à direita, já com algumas folhas amareladas respondendo aos ares da primavera, percebe o céu, a praia, o mar e a rede de micélio invisível para nós, mas que se estende sob a grama verde que se espalha até nossos pés?

Ah! Mas tem um banco de alvenaria, daqueles que certamente tem as rachaduras e as manchas escurecidas das décadas entregue aos elementos e à vida terrestre e, sentado nele, podemos ver de costas um singelo senhor com um chapéu e um agasalho cinzas como o banco.

Ele enxerga ali nas nuvens os momentos de dúvida e apreensão que passaram enquanto ele buscava o céu azul logo acima, mergulha nas memórias dos amores que nunca irão pois continuam a soar suavemente em seus ouvidos as juras de amor, os momentos de superação juntos, os sonhos conjuntos… As memórias vem e vão como as ondas acariciando as areias suaves da praia onde seus pés afundariam se ele se atrevesse a tirar os sapatos no frio do fim do inverno.

Apenas seu nariz percebe a grama ao redor pois seus olhos estão perdidos entre as montanhas distantes pensando no tempo que se esgota e nas terras que não poderá visitar.

A árvore lhe provê uma sombra tímida já que seus galhos já não estão carregados de folhas, mas é o suficiente para intensificar o frio de brisa que o faz suspender os ombros em um arrepio ou outro sentindo que a eletricidade da vida flui com a mesma intensidade dos anos juvenis e que, muito embora seu corpo não seja mais rápido e flexível, sua mente ainda é capaz de viajar velozmente entre memórias, paisagens e planos para o futuro que, ainda que esteja cada vez mais perto do seu fim, sempre pode continuar a trazer surpresas e deslumbramentos!

Agora siga o link para ver a pintura da Camila Fernandes que inspirou esse post. Tem alguma semelhança com a que você pintou em sua mente?

Imagem do post: Neautral beige background, linen texture por Annie Spratt on Unsplash