As pequenas casinhas se apinham subindo em direção às árvores no alto do pequeno morrinho. A luz difusa, as gotículas de água e a neblina que se formou com o cair da noite cercam o cume e as casas mais altas com brumas místicas e silenciosas. A cidade dorme apesar das luzes que fogem das janelinhas.

O véu de luz formado na face da garoa desliza do alto cobrindo a cidade que boceja chamando o sono. As estreitas picadas entre as casas já enlameadas deixam escorrer fiapos de água caminho abaixo. É uma trilha difícil em uma noite chuvosa.

Jogando à brisa as folhas das árvores ao redor roçam umas nas outras sussurrando cantigas e segredos sobre as noites de primavera. Não dá para ouvi-las, mas pode-se “ver” perfeitamente suas vozes.

Nenhum pipocar quebra o feitiço do véu que cobre a favela, e lá sempre há pipocos assustadores, mas não hoje. Hoje a primavera está desperta e o medo dorme silenciosamente.