Um grave e suave tom informa que um novo email acaba de aportar na caixa postal.

Vem com uma apresentação anexada. Belas fotos do sol nascendo ou se pondo, nunca dá para ter certeza, não é? Só quando estamos acompanhando o seu trajeto no céu. Já na vida realmente não há como saber.

O que é o sol da vida? A fé, a esperança? A evolução das ideias e dos humores daquela gente que anda pelas ruas, que sacoleja nos ônibus, que sobe os morros carregando as compras?

“Por isso deus abençoou as alvoradas: para começarmos bem o dia!”. A frase surge, letra a letra, bem lentamente, sobre a imagem de montanhas escuras encimadas por um sol rubro. Deus abençoou?

Entre três e quatro da madrugada é a hora morta, tudo dorme, inclusive a legião de trabalhadores que se levanta assim que ela termina, lá pelas quatro e meia, para jogar uma água no rosto e buscar a primeira condução antes mesmo do primeiro reflexo da manhã.

Os primeiros olhos começam a piscar endurecidos pela remela e pelo cansaço, antes mesmo das quatro e meia o ar começa a explodir, o chão treme, os cães ladram nervosos! O medo se derrama sobre a favela como lava incandescente, a primeira luz da alvorada abençoada é o fogo das armas.