Recebi a apresentação abaixo por email (a conta e a apresentação foram apagadas do Slideshare por violação das regras):
Mandei a seguinte resposta para a minha amiga.
Existe um grande equívoco no movimento contra a descriminalização do aborto.
Ninguém (pelo menos ninguém sério ou que não esteja desesperado) é a favor do aborto e sim a favor de termos algum controle sobre os abortos legalizando-os.
A situação é a seguinte…
Família pobre, dezenas de filhos, mãe doente, alcoólatra, histórico de problemas genéticos e grávida de uma próxima grande filósofa, humanista ou artista: ela vai abortar ilegalmente. Milhares delas abortam ilegalmente todo ano. Estamos matando gênios (se vc não acredita em Deus, pq se vc acredita ele toma as providências para que os gênios possam nascer) aos milhares.
Se o aborto deixa de ser crime podemos criar dispositivos para dar assistência às mães que desejam abortar. Podem ser criados programas de adoção e, quem sabe, até programas para transplantar o embrião para uma mãe disposta a abrigar e adotar aquela criança!
Hoje tenho certeza de que continuar criminalizando o aborto é o verdadeiro crime contra a vida.
A propósito, eu só recomendaria titubeante o aborto se exames médicos indicassem com toda segurança que a criança nascerá morta ou que a mãe morrerá no processo de ter a criança e, mesmo assim, como uma opção que a mãe deve fazer.
Recebi a seguinte resposta:
Pelo que entendi a vida da me ou da criana importam menos do que a vingana pelo desejo da me abortar… Segue meu comentrio:
1.
Existe, antes de mais nada, um erro grotesco em conceito: ningum “recomenda” aborto. Descriminalizar no recomendar. O consumo de lcool neste pas no crime e no entanto ningum o recomenda e, ainda, abusos como beber e dirigir so punveis por lei.
No, no estou dizendo que abortar tomar chopp.
Estou simplesmente dizendo que falar que uma coisa no crime NO a mesma coisa que recomend-la.
2.
Ser a favor da vida dar vida condies de existir com dignidade.
3.
Exijo coerncia. Se a morte cerebral suficiente para a doao de rgos, isto significa que, para a cincia (a nica em questo aqui), a vida humana existe quando existe crebro. Portanto, o feto/embrio antes de desenvolver crebro pode ser abortado de acordo com a realidade/necessidade da me. PONTO FINAL.
O resto filosofia, religio e que podem e devem ser discutidas e propagadas sempre que possvel FORA DA ESFERA DA CINCIA E DA MEDICINA.
Sob o aspecto da medicina: aborto, doao de rgos, clulas-tronco e o que mais vocs quiserem enfiar aqui tem um nico parmetro em questo: onde comea e onde acaba a conscincia humana. E, para se ter conscincia necessrio um crebro. Acabou o debate.
O resto posicionamento religioso, no cientfico.
Cansei.
Completando como farmacutico: a quantidade de mulheres que vo a farmcia comprar e/ou procurar medicamentos que so “abortivos” (entre aspas pq na verdade fazem um coquetel que o vizinho disse que a cunhada…) impressionante.
O aborto criminalizado , para mim, uma das maiores bandeiras da hipocresia catlica nesse pas. E claro, do pulso fraco dos nossos governantes. Com o aborto legalizado os grupos “contra o aborto” poderiam fazer campanhas, inclusive.
O engraado que sempre ouo como desculpa para outros assuntos que a lei muda quando quando o fato em si j mudou na sociedade, a sociedade j aceita, etc. E o aborto j praticado, todo mundo sabe disso. E a?
No me parece, entretanto, que a criminalizao seja impedimento para assistncia. Exatamente pq h o aborto, gerado por questes financeiras/sociais/psicolgicas, deveria haver um macio investimento nessa rea para o amparo dessas futuras no-mes.
Quanto ao posicionamento religioso/cientfico; penso se a resposta no est em Pluto. :)
Explicando: da mesma maneira que um termo cultural foi indevidamente “agregando valor” cientfico ao longo de milhares de anos – ‘planeta’, no caso -, ser que na verdade ao falarmos de ‘vida’ no estamos repetindo o erro?
O que temos, friamente, um conjunto de reaes qumicas que vai se estruturando e aumentando sua complexidade ensima potncia, a partir do fato novo em um outro sistema de reaes (bio)qumicas pr-existente que o corpo da mulher: o vulo fecundado. vulos so, via de regra, garantidos de acontecer, espermatozides idem — mas o vulo fecundado , de fato, ‘o estranho no ninho’.
Mas independente do que, tudo o que temos so reaes bio-qumicas com um grau de complexidade sempre crescente — o que pode ser sintetizado como o maior jogo de Lego que podemos obter. ;-)
Afinal, peas podem ser trocadas j na dita idade adulta, e cada vez mais, em direo da concepo, e se bobear at antes, nos executores desta concepo.
No tarda (no tarda?), e teremos critrios para ditar como essa nova fonte de reaes qumicas ir se desenvolver, no apenas atravs de critrios objetivos (evitando doenas e mal- formaes) mas – acuda! – subjetivos, como que cor dos olhos, pele e cabelo o futuro ser Humano (outro critrio platnico?) dever se parecer (‘Gattaca’, algum?) e, se bobear, homossexualidade.
Lembrando que na China, onde o aborto legalizado, uma das causas, especialmente em um pas de um-filho-por-casal, de se fazer um aborto quando a ultrasonografia mostra que ser uma menina — no me parece um grande improvement pra causa feminista.
Infelizmente as novas tecnologias j nascem emperradas com a ferrugem de nossos velhos vcios, ou o limo dos novos. ;-) Religio ou no, parece que estamos fadados a imprimir alguma marca subjetiva a esses assuntos.