Houve um tempo em que a ciência era proibida e nossa civilização recorria a deuses e superstições para criar metáforas capazes de moldar o paradigma que moldava o nosso mundo.
Desde o início do século XX a ciência passou a ser menos temida e mais admirada apesar de até hoje haver movimentos que tentam proteger os dogmas das religiões a ponto de proibir que a palavra “igreja” seja citada em certos filmes que oferecem justamente novas metáforas baseadas em nossa física e filosofia humanistas.
Uma das descobertas que deve se popularizar muito nos próximos anos é justamente a Matéria Escura que tem um papel crucial na trilogia de Philip Pullman, Fronteiras do Universo. É justamente a adaptação do primeiro volume que tem sido alvo da proibição acima, mas isso não importa pois a civilização segue o seu rumo! ;-)
Saiu uma matéria em Inglês muito boa na Space.com sobre o mapeamento da Matéria Escura. Vale a pena dar uma lida.
O fato é que 5/6 ou 83% do universo parece ser composto dessa matéria que não reage à luz e permanece invisível para nós e perceptível apenas pelos efeitos gravitacionais que ela produz. Sem a Matéria Escura as galáxias perderiam coesão e se espalhariam tornando nosso Universo um caos inabitável e certamente incapaz de abrigar formas de consciência como as que conhecemos.
Comecei falando sobre as distorções dessas teorias porque a verdade é que o efeito prático delas em nosso dia-a-dia é praticamente nulo. Elas só se tornam importantes porque nos apropriamos delas e as modificamos para dizer que tudo é relativo, que a matéria é uma ilusão que pode ser moldada com a nossa consciência e que o Universo se mantém coeso graças a…
Bem, em dezembro desse ano começa nos cinemas a jornada de Lyra que lançará alguns insights interessantes sobre isso, mas eu gosto de usar a Matéria Escura como metáfora para nos lembrar que, como Hamlet já dizia, há muito para descobrir ainda, muita coisa obscura que estamos longe de compreender e arvorar-se dono de qualquer verdade, seja científica, seja religiosa é um erro sustentado apenas por nossa arrogância.
O fato de só podermos ver a 17% de tudo que existe me lembra que devemos olhar com muita atenção as pequenas coisas que teríamos a obrigação de entender e não entendemos como a nossa diversidade (cultural, religiosa, social) e, humildemente, admitir que, se há uma dimensão mística no Universo ela ainda está muito longe da nossa capacidade de observação, o que se dirá da nossa capacidade de compreensão!
Se vc quiser começar a mergulhar nas metáforas da nova ciência e filosofia sugiro começar pelos três livros abaixo:
- Volume I – A Bússola Dourada
- Volume II – A Faca Sutil
- Volume III – A Luneta Âmbar
Oi Roney,
voc fala tanto nesses livros que vou colocar na minha lista de encomendas de livros pra prxima visita que vier aqui…
Se eu puder dar os meus “2 cents”, li um livro recentemente que muito interessante: Batavia’s Graveyard, de Mike Dash (http://www.amazon.com/Batavias-Graveyard-Heretic-Historys-Bloodiest/dp/0609607669)
sobre o naufrgio do Batavia, um navio holands a caminho das ndias. Alm da histria do naufrgio e do motim que se seguiu, d um apanhado geral da Holanda, da sociedade e das navegaes no sculo XVII. Nunca vi em portugus, mas o ingls do autor fcil de acompanhar.
Outro que li h pouco tempo e excelente Napoleo, de Max Gallo (2 volumes). O autor um historiador francs que conta o que seria a biografia do Napoleo como se fosse uma histria. Bem interessante. Do mesmo autor, Cesar outro livro muito bom.
Como voc pode reparar, estou num momento “histrico” nas minhas leituras, sem trocadilhos.
Um abrao,
Paulo
Eu gosto muito do estilo metafrico, lrico e onrico na literatura, seja em Borges, Shakespeare, Pessoa, Michael Ende ou recentemente Philip Pullman, mas nem todo mundo gosta. Em todo caso acho que poucas vezes uma obra de fico trouxe tantas reflexes filosficas quanto esta trilogia. No entanto s se nota mesmo isso partir do meio do segundo volume.
Adoro literatura histrica! Acho que a melhor forma de conhecer cada era por sua literatura ou por literatura que use o passado como cenrio. Neste sentido indico o Vermelho Brasil de Jean-Christophe Rufin (ganhador de um dos principais prmios na Frana):
Esses livros so tudo de bom!
Meu caro, s pra te provocar um pouquinho…
Movido por suas indicaes (como sempre o fao), li os 3 livros e, de fato, so muito interessantes. Mas, confesso que me decepcionei com o final. Me pareceu um tanto apressado, no me conferiu a escala do que estava acontecendo. Ainda que de forma alegrica, os eventos narrados no passam a grandiosidade do ocorrido. Talvez deva rel-lo… enfim.
Mas uma coisa certa: no levo muita f nesse filme, a princpio pelo trailer. Quando se toma como prerrogativa para divulgao de um filme desses o fato de ser “a mesma produtora de ‘O Senhor dos Anis’ e ‘As Crnicas de Nrnia'”, me vm srios questionamentos sobre as motivaes da produo.
At porque botar nrnia e bssola dourada no mesmo saco chega a ser constrangedor.
No mais, isso! Saudade de ti, cara!
Abrao!!!
Damm eu no falo no final em pblico, a gente conversa sobre ele por email ou, preferencialmente, ao vivo. Em todo caso decepcionante mesmo, mas acho que parte da tnica do Pullman… Tem a ver com uma… hummm… impossibilidade de bons finais no estgio em que nossa cultura se encontra.
Alm disso final complicadssimo em qq obra! O de Senhor dos Anis bem melhor, mas tambm muito triste e uma quebra com a escala do que aconteceu. Tambm acho que foi de propsito. Final bom acho que s se encontra em grandes escritores que vo alm da filosofia para mergulhar no restrito universo da grande literatura. Gente como Shakespeare cujos finais so fantsticos sem serem meras epifanias como comum na arte contempornea.
Realmente colocar Lewis (apologtico) ao lado de Pullman uma afronta e demonstrao de que os produtores no fazem idia do que esto produzindo! Alias, a obra de Tolkien tambm pr-crist enquanto a de Pullman… Bem, isso s que ler os trs livros poder entender realmente j que a Igreja est fazendo o que pode para amputar da obra o que ela tem de mais valioso!
E aqui chegamos ao motivo dos meus elogios trilogia e no o final, mas o que ela faz com a nossa forma de ver a espiritualidade, a conscincia e at o sentido da vida. At onde sei a mais audaciosa obra de fico humanista em muito tempo…