É lá na Cinelândia, antes era um cinema, agora é uma igreja, destas Universais do Reino de Deus. Coisa que me entristece e, confesso, dá um preconceito danado! Só que a gente precisa resistir de todo jeito a este sentimento feio, né? Então procuro escrever imparcialmente enquanto meto uns tapas no meu preconceito para que ele não dê as caras e fique comportadinho do lado de cá! Vamos ver se consigo apenas fazer uma foto do fato! ;-)

A porta se mantém aberta como uma caverna convidando nossos olhos a espiar o que ocorre ali, lá na parede do fundo uma foto enorme de um lago com os galhos de uma grande oliveira em primeiro plano onde deveria haver uma cruz.

Impelido pela curiosidade vou entrando na caverna e lá estão as cadeiras vazias do velho cinema, as paredes brancas e ainda os velhos detalhes nas sacadas bem conservados pelos moradores atuais.

Lá na frente um tipo de palco, uma fogueira feita de luz, papel celofane, ventiladores escondidos e tijolos. Um homem mantém uma das suas mãos na testa de uma jovem que deixa as mãos pousadas na cintura formando asinhas de bule de chá com os braços, uma mulher vestindo um tipo de uniforme (blusa branca e saia longa e azul marinho) o auxilia apoiando a jovem.

Na primeira fileira um rapaz observa, namorado, irmão?

A cena nos remete aos fogos medievais quando gente que logo seria queimada se reunia ao redor de fogueias no meio do mato, mas é realmente inusitado ter esta sensação entre gente que hostiliza tanto estes antigos ritos!

Ao redor de tudo isso, em quatro cadeiras bem distantes umas das outras, se sentam quatro pessoas. Uma, as mãos com ataduras esticadas em direção ao exorcismo que se desenrola; bem atrás um homem parece rezar; num ponto à esquerda outro dorme e, finalmente, bem no ponto central para onde convergem todas as imagens e os gritos de ira do exorcizador; um último homem lê calmamente seu jornal…