Não há rusga que uma boa gelada e uma prosa com os camaradas não resolva.

O Coronel vai lá no fundo do boteco arriar a água do joelho. O amigo do homem de dedos nodosos e falésias no rosto aproveita para perguntar se o velho é mesmo coronel ou somente mais um desses aposentados malucos que nunca saíram dos bancos da Av. Atlântica vivendo de bicos aqui ou ali.

— Nada, rapaz! O cara foi coronel mesmo, dizem que era linha dura na época do Getúlio. Só sei que um dia apareceu aqui já bêbado comemorando uma data qualquer e mostrou a todos suas fotos com gente importante e medalhas. Agora anda aqui no bar com os peão…

O Coronel vem ajeitando as calças, encaixadas bem sobre a barguilha está sua arma. O cano certamente compartilhando espaço na cueca com o velho vigor que insiste em não se deixar dobrar pela idade.

— E o referendo, Coronel? É não, certo? — Pergunta o homem de mãos castigadas cutucando discretamente o amigo mais novo.

— Claro, moleque. Vota não mesmo! Este governo de merda já não faz a parte dele para manter a ordem e agora você vai cortar o pão da mesa dos teus curumins para colocar uma arma em casa e se defender sozinho. Vocês são é um bando de otários! Olha pro povo ai, rapaz! Olha ali mesmo do outro lado da calçada. Tu acha que este bando de janotinha vai saber usar uma arma? Arre! Nem venham me encher o saco com esta besteira. Quando tiver referendo para colocar pouca vergonha neste povo metido a gringo e no governo que não sabe se é comunista ou fascista a gente conversa, porra!

Bate no balcão e grita para o rapaz mandando aumentar a TV porque o Mengão tá entrando em campo.