Esse é o terceiro poema do desafio de quatro.

As regras são simples:

  1. Um poema por dia, por quatro dias
  2. Se você esbarrou aqui sinta-se convidada(o) para fazer o mesmo
  3. Publique um poema famoso e um desconhecido (pode ser seu)

Folhas de Relva – Whitman

Com música forte eu venho,
Com minhas cornetas e meus tambores:
não toco hinos
só para os vencedores consagrados,
toco hinos também
para as pessoas batidas e assassinadas.

Vocês já ouviram dizer
que ganhar o dia é bom?
Pois eu digo que é bom também perder:
batalhas são perdidas
com o mesmo espírito
com que são ganhas.

Eu rufo e bato o tambor pelos mortos
e sopro nas minhas embocaduras
o que de mais alto e mais jubiloso
posso por eles.

Vivas àqueles que levaram a pior!
E àqueles cujos navios de guerra
afundaram no mar!

E a todos os generais
das estratégias perdidas,
que foram todos heróis!

E ao sem-número dos heróis desconhecidos,
equivalentes aos heróis maiores
que se conhecem!

Muito bem recitado (coisa rara com poesia) até 1 minuto e 27 segundos na introdução do documentário Dossiê 50.

Encadeio Whitman com um poema que encontrei agora no jornal de poesai Plástico Bolha sugerido por um amigo de amigo no Facebook, pois, afinal, se a poesia vive, n?o deve ter medo de ser exposta à luz dos grandes do passado, de ser colhida à esmo como a mço da criança que captura pétalas enquanto corre no campo.

Chamas

Salvador Passos

no alto dos mastros do marasmo
o câncer já prenunciado
morre
e o cântico entoado
pelas ruas
é raivoso & revoltado

nada de lirismo

no ar
o cântico alucinado
o cancro poético de tudo
como um vírus
espalha
o pânico ensimesmado
proclamando a mais grave pandemia
epidemia de epifanias
vírus nocivo
as bases do sistema destruídas
por uma simples utopia
o surto
a catarse
o escarro
o vômito fétido
o exorcismo do liberalismo panfletário
aristocrático
protozoários autoritários
a elite dos mamíferos
mamando nas tetas do sistema
e o poeta a ler poemas como Nero
lançando fogo sobre as certezas de uma outra Roma
a romaria dos economistas desesperados
e seu aroma ardendo nas fogueiras

Imagem: Walt Whitman