Quando nosso país foi aceito como sede da Copa fui ingênuo de acreditar que a FIFA e organizações civis fiscalizariam os projetos garantindo que eles trariam também desenvolvimento humano. Também acreditei que a maior parte dessas melhorias seria paga por capital privado. Uma troca justa por nossa hospitalidade.

Com o tempo fui percebendo que o governo não dava ouvidos às denúncias e avisos das organizações civis e a FIFA não tinha qualquer interesse em desenvolvimento humano. Além disso há grandes possibilidades do investimento ser majoritariamente público já que supostamente o investimento retornará ao longo e anos.

A credulidade inicial foi sendo substituída pela decepção e creio que a minha história é semelhante à de dezenas, talvez centenas de milhares de pessoas que vêm protestando contra a Copa. É por isso que os protestos foram aumentando gradativamente em vez de despertar com plena força logo no momento da escolha do Brasil. Pouca gente é contra sediar eventos internacionais aqui, mas todo cidadão é contra a exploração do nosso território e de nós mesmos para o enriquecimento de terceiros.

A Copa não seria uma vergonha se pudéssemos apontar melhorias trazidas por ela para os problemas apontados por documentários internacionais que mostram a miséria e prostituição infantil em nossas favelas e cidades mais pobres, bem ao lado de estúdios milionários. Eu ia linkar um deles aqui, mas foi tirado do YouTube pelo canal que o produziu e não é possível alugar ou comprar no site (esse pessoal não gosta de ganhar dinheiro, né?)

Os que tem forte pensamento de direita podem dizer que cabe a cada um não se drogar e ser capaz de sair da pobreza. Quem tem o pensamento oposto falará em assistencialismo, mas o fato é que, pelo bem da nossa sociedade, temos que agir coletivamente para dar alternativas para essas pessoas.

Há vários momentos desses documentários em que fica clara a cegueira do governo para a situação. É evidente que pode-se supor que as agências inventam histórias ou são enganadas, mas ainda assim é inegável, tanto por observação pessoal, quanto com base em relatórios, que prostituição infantil, tráfico de drogas e violência do Estado através das forças policiais são sérios problemas que precisamos abordar.

Já vejo em muitos lugares denúncias de que todas as copas tem sido assim, que a própria base desse sistema está contaminada pela ganância e que já é hora de pensar em outra forma de organizar o futebol para que sua festa global faça jus aos princípios esportivos.

A vergonha não é somente nossa, é da FIFA e talvez ela seja a marca que mais perdeu até agora.

Quando falo em nós falo em mim, em você, nos partidos que estão no governo e nos partidos de oposição. Falo na mídia, nas organizações da sociedade civil.

Talvez você e eu sejamos os que menos devem ter vergonha. Discordo da ideia de que o povo é idiota. Ficou bem claro ano passado que nós nos informamos, nós gritamos e achamos consenso em nossos gritos a ponto de convergirmos às centenas de milhares para as ruas enquanto milhões apoiavam os protestos de suas casas e escritórios.

A maior vergonha fica para a mídia e a oposição que não souberam ouvir e se unir à população ou decidiram ignorar porque não são realmente oposição política, são oposição apenas para estar lá fazendo as mesmas coisas.

Temos as organizações da sociedade civil que não acho que devem se envergonhar, afinal elas tem conseguido ser uma via de questionamento e notícias capaz de alimentar nosso pensamento crítico. Só falta serem mais organizadas, menos utópicas para serem mais eficientes.

Mas esse post é, acima de tudo, para nos lembrar que a Copa já foi (terá ido em um mês e uma semana) e não deve ser diferente de outras Copas passadas, mas temos algumas lições e missões a adotar:

  • Temos que questionar a FIFA para que não ocorram mais os erros que tem ocorrido em sucessivas Copas do Mundo;
  • Se podemos fazer tanto com 30 bilhões temos que fazer muito melhor com os 300 bilhões da educação
  • Temos que aprender a nos informar sobre quem aplica e como aplica as verbas públicas
  • O caminho adiante ainda é longo, mas tivemos melhoras. Precisamos investir nelas e focar no que ainda está errado
  • Acrescente a sua nos comentários (espero não me arrepender disso hehehehe)

Créditos da imagem: Holly Brocks via TrollBrain.