Não é por compromisso com as pessoas. Não, não é por isso que escrevo aqui.

Mas gosto quando o que escrevo é útil para alguém

Não  para alimentar o meu ego…

… e fico realmente incomodado quando ele (o ego) é paparicado.

Duvidam de mim, mas também não é para ser lido que escrevo.

Escrevo aqui porque o processo de transformar ideias e imagens em palavras é… é… inebriante? Extasiante? Sempre faltam palavras.

Talvez por isso venha escrevendo tão pouco. Andei acreditando no que ouvia e achando que devia escrever para os outros ou por qualquer outro motivo que não seja o prazer de ver os mundos imaginários se materializarem fluindo direto da alma para para as pontas dos dedos.

Aliás…

Escrever em teclado em vez de usar uma caneta é uma experiência diferente, nunca tinha pensado nisso!

Com a caneta e o papel temos apenas uma das mãos ativamente envolvidas na transubstanciação da mente em palavras. A propósito, são apenas três dos cinco dedos, e ainda ficam agrupados ao redor do instrumento como monges agarrados a um monolito misterioso.

A outra mão, pobrezinha, fica reduzida a um peso de papel.

Quando usamos um teclado, com um pouco de experiência, temos pelo menos oito dedos avidamente entregues à tarefa (sim, meus polegares praticamente só se ocupam com os espaços entre as palavras).

Agora mesmo enquanto escrevo sinto como se meu cérebro fosse um lago e o toque de cada dedo provocasse ondas que se espalham por ele… quase faz cócegas!

E o teclado… Cada letra suavemente iluminada, como se houvesse um poder mágico sob elas, uma supernova em plena explosão contida apenas pelos limites da minha imaginação tão pequena para o universo infinito de arrumação de palavras!

“diagonalmente entro, afoito, sufocado, uma porta entreaberta de um cosmo esquecido, sem palavras, um universo inteiro somente de cores, todo fúcsia onde, em seu quarto, uma moça adolescente espalha poliedros no ar à sua volta revoltada, não com os peixinhos que flutuam sobre o divã da sala da sua avó, mas com o menino que… Bem, não importa o universo, certas coisas são muito parecidas”

Palavras assim, mesmo jogadas, meio sem eira nem beira, são capazes de criar um espetáculo de estímulos.

E pensar que tudo isso é virtual! Todas as palavras, nos bilhões de folhas de papel, nos poemas perdidos de Alexandria, nos monitores que agora mesmo imprimem os fótons dessas minhas palavras. Tudo isso é virtual e mesmo assim é a essência da nossa civilização… Da civilização? Mas e os desenhos nas paredes das cavernas? Não eram registros virtuais do talento da nossa alma para se projetar para fora de nós, de se tornar maior que nossos corpos frágeis e se atirar indômita na aventura da imortalidade?

E lá vou eu novamente escrevendo algo que parece claramente querer aumentar meu ego, não se deixe enganar! Tenho plena consciência que qualquer outro idiota além de mim poderia dizer as mesmas coisas e até com mais veemência ou mais riqueza política (sertamente com mais correção ortográfica!).

Escrevi palavras por tempo o suficiente para aprender que elas não são nada seletivas e usam qualquer um de nós para se atirar aos papéis, papiros, nós (lembra dos pré-colombianos?), telas e outras coisas onde elas possam se agarrar.

Se você está pensando no vídeo esqueça! Ele sempre será o caminho dos indolentes e – nossa! tem muito indolente em qualquer civilização – terá um lugar de destaque na história, mas a alma que esbarra em um filme vê menos imagens que aquela que é assaltada por palavras!

Aqui entre nós… Depois de ler um pouco a gente materializa muito mais do que imagens. Nós inventamos sons, cheiros e até de frio quase morri uma vez quando uma nevasca saltou para fora do livro diante de mim (culpa sua Neil Gaiman!).

Esse é um post meio sem sentido, já nem lembro como começou, mas sei como termina: não termina…