As calçadas feridas pelas britadeiras, mal iluminadas pelos postes que deixam parte da sua luz nas copas das árvores, mas um trecho permanece iluminado mesmo perto da meia-noite.

A luz se projeta de uma locadora de filmes, moderna, limpa, clara e sem alma. O frio e a garoa fina do lado de fora soam distantes como uma memória que se apaga por força dos sons e imagens dos filmes sempre em exibição nas grandes televisões presas ao teto da grande locadora.

Mas não para dois meninos de rua que se espremem do lado de fora, os pés sujos e descalços, os olhos vidrados nas imagens mudas das TVs do outro lado da vitrine, um sapateado sem som que os encanta tanto quanto a bolinha que rola nos campos verdes ou um sanduíche de pão com mortadela.