Quando eu era uma criança, tinha lá meus 11 anos, morava em um bairro nobre, mas tinha um morro próximo – aqui sempre tem um morro próximo, e no morro uma favela próxima – de onde vinham uns pivetes que andavam pelas ruas nobres do bairro nobre pedindo esmola de gente nobre. Isso foi no final da década de 70.

O Rio cresceu, o mundo cresceu, o capitalismo selvagem deixou de ser uma fera e virou um tipo de monstro do espaço ávido por consumir os recursos da Terra e a gente da Terra sem o menor caso para o futuro. Os pivetes agora já n?o pedem mais esmola, exigem. Olham-nos como se vissem o tal monstro do espaço numa forma que eles podem identificar e ferir.

No meio dos pivetes um monte de malandro de verdade, daqueles que precisam de tratamento psiquiátrico, daí para baixo. Mas como saber quem é quem?

Então dizem Basta, já! E falam que a solução para o Rio é expurgar a miséria para os cinturões ao seu redor e aqui voltará a ser o Jardim do Édem.

Alguém ai assistiu Zardoz?