Cena 1:

Eu sentado na varanda bebendo um chá, perfil, ao fundo prédios e mais distante a favela.

“Eu não tenho certeza de nada. Acho muitas coisas, até as defendo com vigor e convicção, mas se me olham firme e perguntam ‘tem certeza?’ não me resta outra alternativa além de dizer “NÃO!” com a mesma convicção e vigor!

A pior de todas as dúvidas é: “vivo minha vida, resolvo meus problemas, desenvolvo meus sistemas, escrevo os livros e roteiros que me darão sustento ou insisto em meter o nariz nos assuntos e interesses dos outros?”

Voz em off:

Outros… Se outros fossem pessoas da mesma “casta” não seriam interesses de outros, concorda?

Não estou falando coisa com coisa. Assim só eu vou entender: corte repentino, volta para cena um, tudo igual.

“Lá fora naquela favela, em acampamentos do MST, em precárias associações de atingidos por barragens um bando de gente se mobiliza para defender o que considera ser de seu direito e eu aqui me preocupando com eles. Será que eles se mobilizariam por mim pedindo tolerância aos meios que escolho para impor minha vontade? Será que é arrogância que me leva a ocupar o papel de salvador dessas pessoas? Não seria melhor cuidar da minha própria vida como faz a maioria?”

É…

Confesso que não sei.