Tem casais que se apaixonam e mergulham em um relacionamento fechado que exclui pouco a pouco os amigos até que só restam eles dois, os filhos e, uma vez por ano, a família (no fim de ano) e amigos (no aniversário).
É o tipo de mania que acaba com qualquer casal e não preciso falar nisso, né? Mas tem uma outra característica desse tipo de comportamento que não comentamos muito e vem bem a calhar para falar do meu fim de ano: Casais fechados vivem uma realidade própria e totalmente alienada daquela que o resto da sociedade vive.
Isso dá até tese de doutorado.
Pois neste fim de ano estou assim…
Meu casamento definitivamente não é assim, mas meio que me casei com um universo pessoal que exclui os rituais populares.
Não vejo a Globo faz anos (com exceção de Hoje é Dia de Maria – 1), não vou assistir os fogos na praia, não junto a família ao redor para as festas, não solto fogos (não suporto fogos). Também me recuso a fazer coro com o pessimismo conformista que decreta “No Brasil tudo acaba em pizza”. Quando vejo TV ou é DVD, ou animes do Animax que nunca consigo acompanhar pois sempre tem um livro para ler ou um texto para escrever.
Estou vivendo fora da realidade.
Isso não é bem uma revelação, foi uma opção consciente pois já faz alguns anos que não gosto muito da realidade que vejo.
Hummm… Melhor deixar isso mais claro.
A realidade me parece muito bem. Lembro que uns 15 anos atrás um amigo (Misael Hora, um talentosíssimo músico) dizia que somos exatamente o que e como deveríamos ser. É o que acho dos nossos tempos. Não estamos a caminho da destruição, não vivemos à beira do apocalipse, este é simplesmente o nosso tempo.
Ontem os problemas eram a ditadura, a guerra mundial, os invasores bárbaros, os Mongois às fronteiras da China, a peste negra, o tirano senhor feudal, a ameaça da era glacial que nos empurrou para o sul.
Hoje temos o esmagamento da humanidade sob este estranho organismo que parece um monstro com vontade própria chamado “Corporações Globais”.
O que me incomoda não são essas dificuldades, é a reação das pessoas diante delas.
Não gosto do discurso radical de esquerda que acredita em utópicas uniões globais dos explorados para erguer uma revolução.
Não gosto do discurso de direita que descamba para o horror do fascismo.
Não gosto dos que se alienam e vivem no berço explêndido da sociedade hedonista.
Os amigos de esquerda e de direita dizem que penso diametralmente o oposto deles (isso é possível?) e os alienados com certeza me consideram um chato enquanto eu os olho com pena pois… Deixa para lá, eles tem todo direito de viver alienados e não precisam que ninguém lance luz sobre a forma de vida deles.
No final fico eu aqui o hermitão que não consegue encontrar o espírito de natal ou entrar no clima festivo de réveillon.
Você viu Dogville?
É flagrante que sofro da mesma arrogância que vemos no filme (não digo mais para não atrapalhar).
Creio que posso dizer isso sem medo de me expor demais em primeiro lugar porque se duas pessoas chegarem até aqui será demais! Hehehe!
Em segundo lugar que já está na hora de deixar este comportamento para trás e viver mais leve. Posso até deixar aqui e no site as reflexões que me parecerem úteis para sejam achadas por quem considerá-las relevantes, mas na mesa de bar podemos despejar apenas aquelas alegrias de viver que a Bossa Nova cantava tão bem!
Em tempo 1 – Estou tentando escrever a lista dos meus 10 mais, mas está dando trabalho pois são umas 20 categorias diferentes entre teatro, dança, literatura, cinema e música.
Em tempo 2 – Pelo menos a lista de resoluções para 2006 eu vou soltar amanhã!