No Rio de Janeiro é difícil esquecer que além dos desfiladeiros de edifícios há morros, bosques, vales, florestas! São poucos os lugares onde não se pode ver nenhuma vegetação verde, nenhum chão nu. Mesmo assim a maioria caminha pelo centro da cidade como quem sofre de alguma doença estranha que provoca cegueira seletiva: enxergam os carros, mas não o céu, as lojas, mas não a família que vive sobre a calçada.

Por quantos metros uma calçada ou uma rua mergulham para dentro da terra? Quão fundo elas entram nos quilômetros de crosta? Até que profundidade a vida é capaz de fluir sob a terra nas sombras?

Pensando nisso quase podemos sentir o chão oscilando sob nossos pés como se as cidades não passassem de uma fina camada, uma ferida ressecada que seria rapidamente reabsorvida pelo mar de vida logo abaixo.