Assisti um episódio hoje em minha linha do tempo no Facebook que pode ser ilustrativo a respeito do assédio moral ou bullying.

Ah! Não sou psiquiatra, mas tive que lidar muito com bullying e o que compartilho a seguir são opniões pragmáticas, ok? Para estudos formais procure publicações científicas sobre o tema, por favor. Aliás pode compartilhá-las nos comentários.

Segue a situação primeiro sem julgamento de causa apenas para contextualizar.

Uma amiga publicou a imagem de um brinquedo nerd e comentou que a filha viu e gritou “Mim dáaaaaaa!!!!” (entre aspas).

A expressão “Mim dáaaaaaa!!!” é um tipo de piada interna do grupo que é formado basicamente por estudiosos de linguística que, aliás, brincam com termos como corrão e comofas, é como o piloto que se entretém forçando os limites da sua máquina, mas isso é assunto para outro post.

Como a publicação era aberta acabou aparecendo na linha do tempo de uma amiga minha que decidiu criticar a filha da autora do post dizendo mais ou menos o seguinte (ela apagou):

A filha da fulana está precisando ir mais à escola

Na sequência amigos da autora do post e a própria autora explicaram que a expressão era uma brincadeira, observaram a falha dela em perceber o contexto e alguns criticaram a falta de educação de ir entrando no post dos outros para criticar seus filhos.

Comentei explicando que a expressão não era da menina e sim uma brincadeira do grupo, mas, tomando as dores pelo que considerei um bullying a uma criança cuja idade ela não sabia (13 anos), eu disse que ela se envergonhou pois passou pela “moça esquisita que não entende uma piada”.

A amiga continuou escrevendo o seguinte:

meu amigo querido, parabéns a à filha dela por ser tão bem articulada, mas mas, se foi brincadeira, acho de péssimo gosto ” assassinar o português” e ainda divulgar isto. E E, por outro lado, realmente tenho zero tolerância com erros de português, concordância e etc, quem escreve ” para mim fazer” , ” vou te amostrar” e absurdos afins não fica na minha linha do tempo! Intolerância ou não, e é assim que eu sou e vc que me conhece a há muito tempo sabe bem disso… Não faço comentários irrefletidos, apenas mantenho minhas convicções. Quem gostar , gostou, quem não gostar eu não estou nem aí! E quem quiser me criticar, estejam esteja a à vontade, tb não ligo a mínima! Bjs

Marquei alguns erros de português. Note os espaços depois das aspas e antes das vírgulas. Não dá para ver quando o “e” está cortado e tem um sobrando antes de “etc.”.

É claro que, a partir daí, as pessoas, já irritadas pela falta de educação, passaram a apontar cada erro do comentário. Todos riam muito ali mesmo e nos comentários em paralelo. Não fiquei com pena da amiga que ainda veio conversar comigo por chat dizendo que se surpreendia que eu fosse amigo de pessoas “babacas” e reafirmando que não cometia erros. Minha resposta para ela não foi a esperada…

Achei que valia a pena escrever esse post por dois motivos.

Primeiro motivo: por que foi tão engraçado?

Vamos sintetizar?

Uma pessoa entrou em uma publicação de uma desconhecida, criticou a filha dela por não saber falar português, certo?

Já fez isso de forma um pouco ridícula pois pareceu, aos olhos das pessoas ao “redor”, analfabeta funcional por não notar que a expressão era uma brincadeira.

Ao ser criticada ela replica com um texto repleto de erros! Vários que a menina de 13 anos jamais cometeria.

Foi como o valentão da escola que vem bater no fracote e escorrega, ou pior, leva uma coça da sua vítima que vinha estudando artes marciais.

Isso é o engraçado: o assediador moral ser exposto ou “o feitiço maligno virar contra o feiticeiro”.

Fazer graça do assediador moral é uma forma de humor politicamente incorreto pois, é claro, expõe o outro ao ridículo, mas ele estava fazendo isso primeiro.

Trata-se de um sentimento de justiça que leva ao riso. Um “Hahahaha! Se F$#*&”.

Quanto mais a pessoa se debate pior. E no caso, desculpe, mas tenho que dizer, a assediadora se deu muito mal por ter caído em um grupo de pessoas extremamente bem-sucedidas, entre os melhores das suas áreas. A cada vez que ela chamava o grupo de desocupado ou tentava apelar para a autoridade por ter publicado um livro… um livro… Bem, quanto mais ela se debatia, mais gerava risos.

Esse massacre me leva ao segundo motivo.

O Bullie sabe que é um assediador moral?

Eu realmente fiquei em dúvida se a minha amiga, digo, ex-amiga já que ela me bloqueou, percebeu que estava sendo profundamente mal-educada. Mesmo que ela tivesse um domínio espetacular da nossa língua ela estaria errada.

Me pergunto se ela enfrentava o grupo por orgulho, pela incapacidade de admitir que estava errada ou se realmente via de outra forma.

Tenho a impressão de que o assediador geralmente se sente mesmo como um ser superior que tem a prerrogativa de consertar o mundo, de ser um tipo de guardião da sua causa enquanto os outros devem aceitar sua autoridade sem discutir.

Não estou dizendo que devemos ter pena do assediador, mas devemos entendê-lo.

Muitas vezes vi amigos querendo “acertar as coisas” com o assediador, mas ele não vê da mesma forma que nós vemos.

Eu realmente acho que, quando a ex-amiga veio falar comigo em particular, ela esperava que eu reconhecesse que ela estava certa, que estava punindo as pessoas que se atreveram a ser malignas corrompendo nossa língua.

Troque aí o português por família, raça, cultura, sexualidade, gênero…

Sim, o dispositivo é praticamente o mesmo: a pessoa está hipnotizada pelo próprio umbigo e é onfalofóbica em relação aos umbigos alheios (desculpe pelo onfalofóbico, mas pelo menos facilitei colocando o link para o dicionário).

O assediador muitas vezes entende que a realidade dele é absolutamente correta e que a interferência da realidade alheia coloca em risco o Universo… Tá, Universo pode ser um exagero, mas é percebido por ele como uma séria degeneração da realidade.

Quanto melhor entendemos o assediador melhor sabemos lidar com ele.

Conclusão

Felizmente a vítima, apesar de jovem, está muito bem equipada para lidar com assédios morais e os amigos dela e da mãe sabem disso, e assim mesmo partiram para defendê-la. Por quê?

Porque, mesmo quando a gente sabe se defender, o carinho dos amigos é bem-vindo. Porque o assédio moral não pode ser uma coisa para a qual viramos a cara! Porque o assediador moral não deve ter a impressão de que está em maioria.

A propósito, a “vítima” colaborou com duas ótimas tiradas:

“MEO DEOS! Eu tiro um cochilo e quando acordo tem quase cem comentários novos! YOU SÓ PODE TÁ DE BRINQUEITION WITH ME, CARA!!”

E esse clipe:

Em tempo, o elitismo…

Achei interessante a amiga, ops, ex-amiga dizer que jamais teria em sua timeline alguém que escreve mal. Será mesmo que esse é um bom critério para escolher amigos? Alguém que escreve bem é mais ético, moral e educado? É mais fiel aos amigos? Quem não sabe escrever bem é uma pessoa má?

Bem… Ela não sabe escrever e foi muito grosseira, então… :-P

Não! É claro que o fato de ela não dominar bem a escrita e não saber disso não tem nada a ver com sua educação, mas seus critérios para escolher amigos são sintomáticos.

Ela parece escolher as companhias por critérios de superioridade intelectual e não moral.

É óbvio que queremos amigos espertos, mas antes de ser espertos queremos que sejam boas pessoas.

No final das contas sempre chegamos a isso: os assediadores morais normalmente são pessoas sem amigos de verdade, sem a capacidade de formá-los.

Há muito tempo perdi contato diário com essa amiga (quase 30 anos na verdade) e não tenho como confirmar essa hipótese, mas parece muito provável.

Fonte da imagem do cabeçalho: Livres Pensadores