Sobre o projeto

Esse é o décimo primeiro conto do projeto #UmSábadoUmConto (Post explicando o projeto)

Durante a semana as pessoas votam em estilo, gênero, público e época. O autor (eu) só pode saber o resultado às 8h de sábado e tem até meio dia para terminar o conto.

Cada conto é escrito com um processo criativo diferente (veja no final).

O que você vê a seguir é o conto com a mínima revisão. Você pode ler sem revisão no Google Docs.

O Conto

– Carol? Alô, Carol?

– Pera aí, Cláudio, a ligação tá cortando… Tô correndo… Te ligo em… 10 minutos.

A ligação é interrompida. Casados há sete anos e ele ainda não lembra dos horários em que ela sai para correr… O engarrafamento hoje está pior que de costume e Cláudio está preocupado. Carol é advogada e deve ser capaz de ajudá-lo com a questão do contrato de confidencialidade que ele tem com a empresa.

Ele, com 32, e ela, com 33 anos não podem reclamar da vida. Os dois tem carreiras em franca ascensão e desfrutam de boas posições. Ela se preparando para ser promotora pública e ele é um economista capaz de tirar recursos do ar.

No banco do carona Cláudio olha para os gráficos que imprimiu com sobras de recursos de departamentos da multinacional de agronegócios em que ele trabalha. São dados que raramente são analisados, são simplesmente reintegrados, mas esse é o problema, uma parte substancial deles, em vez de serem reintegrados estão sendo repassados para uma subsidiária inexpressiva. Devia ser apenas um tipo de estoque de materiais indo de papel a tratores tanto da própria empresa matriz quanto de outras menores que precisam armazenar equipamentos e não dispõe de um espaço.

O trânsito volta a andar… Cláudio olha para os motoristas vizinhos… É uma relação estranha essa que temos em rodovias engarrafadas de grandes cidades… Ali está o outro, há menos de dois metros, mas vivendo em uma bolha de realidade em que mal percebe que há outros seres no Universo, o que dirá no carro ao lado. A mulher que está retocando a maquiagem o nota e o clima fica constrangedor. Cláudio fecha o carro vizinho para avançar um pouco mais e se livrar da situação. Não dá muito certo, mas pelo menos coloca uma coluna de carros entre eles.

Já está escuro, naturalmente, mas um lindo por do sol atravessava a janela do escritório no 27º andar às 17h quando Cláudio verificava a tal subsidiária e percebia que ela tinha gastos de viagem por todo o Brasil, muitos gastos. Belo Monte foi o que chamou sua atenção e logo depois ele descobriu que todas as viagens eram para pontos onde aconteciam grandes obras ou mobilizações ecológicas. Tinha algo errado… Estava claro que ele havia esbarrado no que não devia.

É claro que sua função envolvia diversas sugestões que levariam muita gente a sofrer; como cortes de pessoal e desapropriações de trechos de terra ocupados por fazendas familiares conforme as necessidades do agronegócio se expandiam, ele até desconfiava, claro, que a empresa devia investir em políticos que desfavoreceriam interesses ecológicos, mas não pensava muito nisso… não era sua função.

No entanto, agir ativamente contra o meio ambiente mexeu em um interruptor em Cláudio. Uma coisa é manter seu direito de expressão para defender seus interesses, outra bem diferente é fazer algo contra os direitos de expressão dos outros… E Cláudio não é ignorante, ele sabe que teremos que resolver nossos problemas ambientais um dia. Só esperava que outros cuidassem disso, mas se empresas como a dele estão aplicando verbas desviadas para tramar alguma coisa então a disputa deixa de ser entre opiniões e passa a ser um jogo de poder desigual.

O telefone toca, ele olha a tela e é a Carol. Ele atende no viva-voz.

– Oi Carol, desculpe te ligar durante a corrida, esqueci de novo! Tô preso num engarrafamento horrível! Demorei a sair da empresa e vou chegar tarde em casa, ok?

– Tudo bem, amor, assim você não me encontra fedendo que nem rato morto!

A risada dela é leve e faz Cláudio se lembrar do pôr do sol que tinha visto mais cedo. Ele decide não falar nada, tinha sido uma tolice querer falar com ela pelo celular antes. Se ele realmente pretende ir a fundo nisso tem que ser muito mais cuidadoso.

Carol ainda está ofegante, deve ter ligado imediatamente depois de terminar a corrida. Será que ela corre perigo? Ele usou os computadores da empresa para fazer as pesquisas… Certo, agora isso já não é ser cuidadoso, é ser paranóico, mas será que um pouco de paranóia não é justamente o que pode fazer a diferença entre a vida e a morte?

– Tá bom ratinha! A gente se vê daqui a pouco!

– Você tá bem? Sua voz tá estranha… Você tá preocupado com o quê?

– Um pouco cansado, coisas do trabalho… Te conto em casa, ok?

– Tá bom… Ó! Esquenta não, você é um dos melhores no que faz e vai achar a solução, qualquer coisa eu te ajudo com os cálculos! – e outra risada leve enche o carro fechado. Ela é péssima com cálculos.

Pouco antes de chegar em casa ele recebe o WhatsApp dela “Caça comida. A geladeira está fazendo eco eco eco eco ;-)”

Um bocado de queijo, pão francês e um vinho, é o que ele leva para casa. Só quando a Carol o olha com olhinhos de esquilo e boquinha de gatinha perplexa é que ele puxa outra sacola com ingredientes para fazer comida de verdade, mas eles acabam comendo mesmo o pão com queijo e vinho sentados no chão da sala que ainda não tem mesa… Tem uma semana que eles mudaram para o apartamento recém-comprado.

A Carol bobinha de minutos antes vai se transformando na séria futura promotora pública conforme Cláudio mostra os dados que recolheu. Ela conhece e tem interesse por cada um dos casos que foram visitados pela empresa de fachada e, em vários deles, havia suspeita de agitadores infiltrados e relatos de pessoas investigando os ativistas.

Os dois se debruçam sobre artigos de jornais de grande circulação e alternativos buscando nomes que possam estar envolvidos tanto no papel de investigados quanto de investigadores. O segundo grupo é invisível. Parece história de “Homens de Preto” só que não tem nenhuma graça.

– Cara… Cláudio… Para tudo. Você já pensou no que estamos pensando em fazer? Onde isso vai nos levar? A gente não está em um filme, temos nossas vidas! Acabamos de comprar um apê! Como vai ser? Vamos denunciar sua empresa? Ok, não é um rompimento de contrato de confidencialidade afinal o contrato é para atividades lícitas da empresa, mas onde vamos, digo, onde você vai trabalhar depois disso? Você não acha que alguma outra pessoa é que tem que descobrir e pesquisar essas coisas? Sim, porque o que temos é insuficiente para entregar para a mídia e… bem… que mídia vai querer comprar essa briga com uma empresa deste tamanho? Tá me entendendo?

Ela olha com firmeza para ele, a testa franzida lhe dá um ar de determinação e de força que surpreendem.

– Carol… Caiu nas minhas mãos… Eu não posso fugir da responsabilidade. No momento que estou consciente não posso ficar calado!

A voz de Cláudio soa fraca, com medo, mas também determinada.

– É por isso que te amo, seu maluco! Então nosso primeiro passo é ir lá nessa empresa e tirar fotos de quem entra e quem sai. Você precisa pedir uns dias de folga na sua empresa. Depois que tivermos informações suficientes a gente pensa no que pode fazer. Vamos salvar também todas as fotos com pessoas que acharmos nos artigos de jornal e sobre os lugares para onde eles mandaram gente.

Felizmente a empresa é em uma cidade perto de São Paulo. O grande canteiro está repleto de caminhões agrícolas, de ceifadeiras a arados. Eles param o carro no alto de um barranco de onde dá para ver o acesso principal, há uns 500 metros, com facilidade. Dentro dele eles armam a câmera de 50x de zoom que compraram numa das viagens ao exterior para tirar fotos dos rebites da torre Eiffel.

Quando Cláudio se dá conta ao lado do carro tem uma grande toalha de mesa com um bolo em cima, uma jarra térmica, pratinhos, talheres de plástico e uma Carol descalça de pernas cruzadas rindo para ele.

– Piquenique! O disfarce perfeito! E não é porque viramos espiões que não podemos nos divertir! Senta, daqui dá para ver se vier algum carro e dá tempo de chegar na máquina.

– Vamos passar um mês fazendo piquenique aqui e ninguém vai achar estranho, né Carol?

Os dois começam a rir, afinal provavelmente aquilo não daria em nada, eles não poderiam passar mais de um dia ali. Logo a realidade os chamaria de volta e uma parte deles estava nisso só pela brincadeira enquanto a parte que se indignou dois dias antes começava a ser vencida pelos interesses individuais deles.

Volta e meia um carro chega e esses são fáceis de fotografar pois são vistos ainda antes de chegar ao portão externo, mas as pessoas que estão saindo dão mais trabalho então eles começam a se revezar mantendo sempre um dos dois no carro enquanto o outro comparava as fotos tiradas (enviadas por wifi para o computador) com as que eles tinham guardado dos jornais.

Não demorou para ver no meio das multidões de ativistas ecológicos rostos que agora entravam e saíam daquela empresa em carros utilitários caros e poluentes.

E tinha as antenas… Parabólicas grandes instaladas entre os caminhões o que fez com que eles demorassem a percebê-las. Eram cinco ao todo. A coisa era mais sofisticada do que eles pensavam.

Carol tinha amigos em algumas organizações ecológicas, mas era estranho que alguém se desse a tanto trabalho para se infiltrar em manifestações que muitas vezes são combinadas em assembleias ao ar livre que todos podem olhar à vontade. Esses grupos são idealistas e ingênuos, não fazem nada em segredo.

– Carol? E se tiver grupos que fazem algo em segredo? O que eles poderiam fazer? Se desse lado tem gente tramando secretamente deve ter do lado de lá também. O que eles tramariam? Terrorismo ecoativista? Ações como as do GreenPeace?

– Não… Isso não faz sentido. Nada disso causa realmente algum problema para essas empresas. Soltar uns beagles, atrapalhar um baleeiro? Teria que ser algo que ameaçasse o negócio…

Carol arregala os olhos e deixa a boca de abrir daquele jeito que a faz parecer uma gatinha perplexa.

– Só se eles acham que tem gente que está pesquisando tecnologias que podem tornar os negócios deles obsoletos, lembra que uma vez te mostrei um projeto de fazenda vertical? Prédios que tem ecossistemas quase fechados onde se produz de tudo? A tecnologia nem é tão avançada, mas ninguém fez até hoje.

– Claro! Lembro! Bem, eles atrapalhariam muitos negócios, não é? Esqueça os atravessadores pois a produção seria feita na própria cidade onde haverá o consumo então também não precisaria de transporte de caminhão interestadual. Que indústria moderna se interessaria em pagar pesquisas para algo que é ruim para o agronegócio, para a indústria do petróleo e até a indústria de armas teria a perder pois não precisa de jagunços armados para proteger uma fazenda dessas.

– Sei lá, amor… Por outro lado será que não é muita viagem da minha cabeça?

Eles estão tão concentrados que demoram a perceber o ruído de um carro se aproximando. Felizmente Cláudio está sentado dentro do carro e Carol está cortando uma fatia de bolo na hora e ele tem tempo de fechar o tripé e jogar a câmera sob o banco antes que o carro entre no campo de visão deles.

Dois homens de jeans e camisas de malha saem do carro sorrindo, mas com olhares bem ameaçadores.

– Aqui não é um bom lugar para fazer piquenique… É bem perigoso aqui. Muito deserto e sempre aparecem pessoas querendo invadir o campo ali em baixo para roubar peças.

– Puxa! Obrigada!! A gente está viajando para o centro-oeste de carro e paramos aqui para esticar as pernas, não sabíamos que era perigoso! Obrigada mesmo!!

Já no carro, indo para a cidade próxima, os dois se entreolham. Com certeza eles tinham causado preocupação a alguám. A placa deve ter sido anotada. Agora não tinha mais volta… Pelo menos a desculpa do Cláudio para se ausentar seria coerente “Ir visitar um ramo da família porque um parente próximo e importante estava à beira da morte” e Carol deu a desculpa de que iria com ele.

Carol decide que eles precisam encontrar alguém de confiança do lado de lá, dos que estão sendo espionados. Ela tem um amigo que conhece todo mundo na área de meio ambiente inclusive um cientista e político engajado na causa ambiental. Cláudio dirige enquanto ela fala com ele ao celular, diz que precisam conversar e pede para ele tentar marcar um encontro com o tal cientista.

– Carol? Acho que eles estão nos seguindo… Quer dizer, não tô vendo nada, mas é claro que eles devem estar nos seguindo. Temos que assumir que estão nos seguindo, não acha?

– Calma, mô! Sem pânico, tá? Com paranoia, mas sem pânico, certo? Você tem razão… É melhor assumir que estamos sendo seguidos. Vamos direto pra Sampa, pro shopping perto de casa. Vamos deixar o carro lá e pedir para alguém pegar para a gente. Aí saímos de lá e pegamos transporte público. A Raffinha pode quebrar essa para a gente, vou mandar WhatsApp para ela… Vamos trocar de roupas também, ainda bem que trouxemos! Será que podemos confiar no WhatsApp? Bem, por enquanto vai ter que ser assim…

A Raffa está esperando no estacionamento quando eles chegam.

– Vocês vão dizer o que tá acontecendo? No que vocês se meteram? Como alguém como vcs se mete em alguma coisa?

A Carol olha para ela, segura suas bochechas gostosas de apertar, dá um selinho nos seus lábios e diz apenas “Melhor não Raffinha… Deixa o carro na nossa garagem, não deixa ninguém te ver saindo dele. O porteiro nunca te viu então simplesmente sai pela porta e, se perguntarem, você não vê a gente tem uma semana, valeu? Juro que te conto tudo depois! Melhor que isso! Tem um post que vai se publicar automaticamente em 24h no meu blog se acontecer alguma coisa comigo. É com senha. Decora: raffalinda, difícil,né? Se ele aparecer estará tudo explicado lá. Manda para os jornais sem se expor, tá? Joga na Rede, espalha.”

Eles não passam mais de três minutos juntos com receio de alguém vê-los. A Raffa é uma grande amiga. Felizmente eles tem alguns poucos, mas grandes, amigos em quem podem confiar.

– Oi? Letícia? – Eles vão para a casa de uma amiga do Jorge que eles não conhecem, a ideia foi por receio de que os perseguidores que a paranoia dizia que estavam em seu encalço vigiassem as casas dos amigos que estão ligados a ecologia. Ela e Jorge usam um aplicativo seguro de videoconferência que Cláudio e Carol nunca tinham ouvido falar.

– Isso, já estou com o Jorge e o Gustavo, que é o nosso contato no congresso e um brilhante cientista ambiental, na videoconferência. Vocês só disseram por WhatsApp que achavam que podia ter penetras na festa do Jorge e a gente já sabia disso, mas o Jorge se preocupou com o que vocês podem ter esbarrado e se estariam em risco…

Letícia é uma mulher de uns 40 anos de cabelos bem encaracolados com cachos ainda castanhos escuros alternados com outros ficando grisalhos, mas sua pele é lisa como a de uma adolescente e os olhos brilham com uma curiosidade e paixão que não se vê todo dia.

A casa fica na encosta de um morro e é diferente. Na paredes há vários tablets mostrando gráficos que se movem o tempo todo. São barras que variam do vermelho ao azul.

– São gráficos de sondas que medem a temperatura nos oceanos, sou oceanógrafa. – Ela explica ao ver que os dois observam curiosos os tablets – Azul mostra temperaturas que estão dentro do ideal para manter as correntes saudáveis e vermelho mostra que estão frias ou quentes demais. E sim… Tem muito vermelho nesses gráficos… Eles são um tipo de contagem regressiva. Não que algo vá acontecer se eles ficarem vermelhos demais… Bem, não imediatamente, mas vocês devem ter lido sobre a onda de frio na Europa essa semana, certo? Aqueles quatro tablets ali sobre o roteador wifi mostram as condições das correntes que participam da regulação do clima lá. Tem uns três anos que não ficam tão vermelhos.

Na verdade a casa parece um laboratório com vários computadores em uma bancada e um enorme quadro branco com cálculos.

Eles sentam diante de uma TV de umas 50 polegadas onde se veem os rostos do Jorge e do Gustavo bem grandes além do deles três em uma janelinha menor.

Enquanto eles conversam a Letícia instala aplicativos de comunicação segura nos celulares dos dois, um cliente TOR e carrega um documento explicando como usar tudo aquilo além de um app que dá duas interfaces para o celular de acordo com a senha usada: com uma aparecem apenas os aplicativos de comunicação e com outra é exibida a interface normal com os aplicativos comuns que todo mundo usa.

– Estou acabando de fazer o backup para a nuvem e para o HD externo. Preciso de mais 15 minutos e depois podemos ir – Letícia comenta sem tirar os olhos dos celulares que está configurando – Se nada acontecer, depois o pessoal da limpeza vem recolher os meus equipamentos.

– Cláudio e Carol, – Gustavo tem uma voz firme, grave e calma – Antes de mais nada temos que agradecer a vocês. Conhecendo os rostos dos infiltrados poderemos plantar informações falsas que os levarão para longe de nós e vamos repensar seriamente a nossa participação nessas mobilizações pois isso não pode colocar nossos projetos em risco. Minha confiança no Jorge é ilimitada e ele confia em vocês, mas ainda assim eu prefiro não falar que projetos são esses. É por isso que vocês estão com a Letícia, eu sou um teórico e minha posição como político me torna visível demais. Eu nunca vi os projetos de perto… A Letícia sim. Ela vai levá-los lá, mas vocês devem entender que a volta será complicada pois vocês terão que viver uma vida secreta e, claro, vocês não saberão onde estiveram. No entanto acho que, se vocês quiserem, podem nos ajudar a impedir que nossas pesquisas sejam destruídas. Vocês entendem os riscos?

Os dois concordam com a cabeça. Então Carol cutuca forte a costela de Cláudio e diz “Fala que nem hómi, menino! Entendemos e concordamos Gustavo! Tem caminhos que tomamos que não podem ser ignorados”. Ela ri um pouco, o Cláudio sorri os outros permanecem sérios. Ela fecha a expressão, se aproxima da câmera e se transforma em outra pessoa “Nós entendemos perfeitamente o que a Letícia nos mostrou, vimos perfeitamente bem o que havia nos olhos dos homens que vieram falar conosco e sabemos que as responsabilidades que caem em nossas mãos devem ser abraçadas com dedicação mesmo que nos causem grandes danos. Só não estamos plenamente convencidos das boas intenções de vocês”.

– É por isso que vocês vão comigo para o projeto. Os celulares estão prontos, no caminho explico a vocês como usar. Temos que ir logo enquanto ainda é noite.

A viagem envolve avião e um trajeto de carro por estradas acidentadas. Quando eles podem olhar para fora estão em uma estrutura totalmente fechada, talvez subterrânea. Uma sala de recepção com uma mesa e uma janela coberta por uma persiana.

– Aqui estamos nós… Vocês pediram uma semana no trabalho, né? Mas a história é falsa, já estamos preparando uma outra mentira inconveniente, que vocês na verdade fugiram do trabalho para passear, crise do casamento. Assim vocês podem voltar com uma história desagradável que ninguém vai querer ficar comentando com vocês. Agora vamos conhecer o projeto?

Ela abre a persiana e eles percebem que estão em uma estrutura do tamanho de uns 12 quarteirões pelo menos. A luz vem do teto e parece luz solar, mas é diferente. A maior estrutura tem seis andares e é um edifício fazenda. Ao redor dele há residências cujos telhados abrigam plantações, três torres de três andares são claramente estações de distribuição ou de produção de eletricidade.

Eles passam os próximos três dias conhecendo as pessoas que moram lá e aprendendo que é um sistema quase totalmente fechado, que eles não extraem praticamente nada do ambiente exterior além do carbono que é recapturado para testar tecnologias de recaptura e produção de estruturas de carbono.

Os custos do projeto devem ser astronômicos, pelo menos os custos iniciais já que depois o ecossistema fechado é praticamente autônomo. O ponto mais crítico ainda é a geração de energia que, para ser independente, teria que vir de um reator de fusão ou outra tecnologia ainda mais distante. Se essa tecnologia, ou uma combinação de tecnologias que forneçam energia limpa, for alcançada eles podem exibir o projeto pois então não haverá mais argumentos para a sua inviabilidade econômica.

Cada descoberta feita ali é publicada em domínio público na Internet em papers que são mostrados para a Carol e para o Cláudio.

São grandes os sacrifícios das pessoas que tornaram aquilo tudo real. Os que atuam do lado de fora jamais podem ver o resultado das suas pesquisas pois são visados demais como o Gustavo ou como empresários milionários que entendem que o futuro da vida está em jogo e certamente suas viagens seriam monitoradas. Por outro lado a maioria que está ali abandonou suas vidas fora do projeto muitas vezes forjando as próprias mortes.

Mas o futuro está sendo construído ali e as rodas de convivência em que Cláudio e Carol entraram os encantaram com a combinação de pessoas que vivem de acordo com tradições indígenas, cientistas, filósofos e pessoas simples que aram e cuidam da terra em harmonia caminhando ora em paralelo, ora se completando. A sabedoria ancestral antecipando a ciência e a ciência desvendando aos poucos os segredos a que essa sabedoria nos conduz.

A vida dos dois de volta a um mundo que agora lhes parece primitivo não será fácil, mas eles entendem que serão mais úteis fora, atentos para as movimentações dos que querem impedir os avanços que desafiam suas fontes de lucro atuais, mas que podem ser a única esperança para a continuação da vida na Terra ou a chave para estendê-la para o espaço.

Comentários

Cara… O scifi ficou na última página… Foi mal. Esse é mais um conto que merece ser expandido depois.

Coloquei pelo menos um pouco do caráter deles e da natureza dos relacionamentos que eles constroem (leves, fieis e livres), mas tive que colocar tudo muito corrido para cumprir a meta de escrever em 4 horas e fazer o hangout depois.

Hangout

O processo criativo

Me comprometi a usar uma estratágia em cada conto enquanto desse, mas só faltam três:

  1. Fanfic: criar em um universo que já exista
  2. Criar uma história em que eu gostaria de estar, ou seja, eu mesmo sou um dos personagens (é meio preguiçosa, né?)
  3. Retalho de outros autores / histórias. É preguiçosa também e fica com cara de plágio apesar de ser comum (as histórias mitológicas por exemplo)
  4. Um banco de histórias que a gente mesmo criou, como sonhos e crônicas. Lembrei dessa agora.

Sábado vamos ver que estratégia vou usar. Vai depender do resultado da votação.

Me atrasei! Foi mal! São [8:09] Agora! Vamos ver o resultado da votação e vou avisar no Twitter e no FB que estou começando!

Foram 15 votos. Ganhou Aventura, scifi, presente e empatou jovem e adulto. Dá para fazer bem para os dois, um jovem-adulto por exemplo. Gostei pq vi Interstellar essa semana e já estava pensando em dar um jeito de inserir umas ideias que vieram dos papos sobre o filme no conto de hoje.

Uma pessoa sugeriu usar letras de músicas que é uma coisa realmente muito legal!!! Mas eu sou uma negação para lembrar de letras de músicas!!! No máximo lembro de uma frase ;-) tipo “Mr Sandman… Give me a dream…” e acabou! Hahahaha! Juro que um dia vou pegar um monte de letra de música e estudar para fazer um conto, ok?

Vou usar hoje então a quarta estratégia aí de cima: um banco de histórias que tenho na minha cabeça (e nas pastas sonhos, contos, livros etc onde anoto ideias).

O que eu venho pensando em usar durante a semana é a ideia de que uma cidade ultra-avançada tecnologicamente (uma evolução para o lado “certo”) teria não só uma pegada de carbono nula, mas capacidade de restauração do equilíbrio ecológico do Planeta.

De qualquer forma, com a nossa interferência ou não, um dia a Terra entrará em outro ciclo que tornará as formas de vida atuais inviáveis. Uma das mensagens mais fortes de Interstellar é justamente contra essa ideia de que a Terra foi feita para a vida como é hoje e que, se não atrapalhássemos, ela seria um paraíso para sempre.

É bom? Bem, bom não é, né? Mas termos acelerado a entrada em um novo ciclo ecológico no planeta que pode nos fazer despertar para a necessidade de sermos preservadores do sistema que existe hoje.

Como a história é no presente se eu quiser usar isso tudo terá que ser através de gente planejando isso, despertando para isso…

Tá aí! O que nos impede de já estar construindo cidades que pelo menos não interferem no meio ambiente? Sem emissão de carbono, ricamente arborizadas etc. Não há interesse econômico… Vai contra alguns interesses econômicos…

E a história é uma aventura…

Esse tema é perigoso, é arriscado fazer uma daquelas histórias ecológicas bobinhas. Talvez lembrar da conversa do cientista com o padre em Contato me ajude a fugir disso… A que eles tem diante de um pêndulo de Foucault. Aliás Contato está bem recheado de ideias interessantes sobre a natureza humana.

[8:28]

… pensando… Hummm… Quero falar do melhor que podemos ser dando menos foco para os elementos perversos da história, quero falar em pessoas diferentes que se unem pela causa comum (aproveitando o recente sucesso da missão Rosetta que envolveu vinte países trabalhando juntos por 20 anos).

A história já está se delineando… Se você não quiser spoilers é melhor voltar só meio dia e ir direto para “O Conto” ok?

Ciência precisa de experimentação, de dados, de tentativa e erro para funcionar. Os resultados das pesquisas precisam ser metodicamente anotados para que possam ser reproduzidos tanto para confirmar que estão corretos quanto para serem aplicados no futuro.

O que teremos é um grupo grande de pessoas de várias origens: milionários, políticos, cientistas (claro, né), indígenas (e pessoas que optam por um estilo de vida completamente mesclado ao ambiente), pessoas comuns etc. que foram se unindo a uma grande experiência que visa desenvolver as tecnologias que nos permitiriam fazer cidades… que nome eu daria a cidades que restauram o equilíbrio ecológico? E ao mesmo tempo poderiam ser construídas no espaço para que possamos fazer travessias de 10 anos para outros sistemas solares.

Nossos heróis vão esbarrar na existência dessa iniciativa por estarem servindo ao lado inimigo, eles não serão chamados por alguém que já faz parte do projeto. Vão descobrir que as empresas para que trabalham estão tentando descobrir sobre essa experiência e destruí-la por ser contrária aos seus interesses econômicos.

Tenho que tomar cuidado porque o tema é vasto e pode ficar apertado para escrever em 3h. E ainda tenho que comer alguma coisa pq acordei tarde e só bebi água! Mas esse é o momento em que tenho que dar uma parada para pensar bem nos pontos principais da trama com introdução, virada, problemas, chave para resolução dos problemas e conclusão. Já volto [8:43] voltei [8:57]

Quase sempre eu começo sem saber como será realmente a história, tenho os personagens e o começo ou o fim, hoje tenho o começo e o fim, mas faço pouca ideia do que acontecerá no decorrer. Um dia preciso fazer isso diferente. Sei que tem gente que planeja o conto ou o livro inteiro antes de começar e pode ser uma boa tática, principalmente se tivermos um prazo, mas sinto que, se eu tentar pensar em todos os detalhes não vou conseguir escrever tudo. Então vamos lá…