Já escrevi antes sobre o que acho dos livros digitais x os de papel, mas finalmente comprei um Kobo e os papos inspirados por isso lá no Facebook acabaram me levando a fazer o comentário a seguir, que, além de extenso, acabou ficando emocionante, então decidi copiar para cá.
Isso é que nem gente que gosta de vinil, é uma relação mais ligada à memória e emoção que à razão e não há qq problema nisso, ninguém deveria ter que explicar pq gosta de papel ou pq rejeita a caneta esferográfica no lugar da caneta tinteiro por exemplo.
É claro que chega um momento que fica muito caro ou até praticamente impossível comprar um objeto de desejo como um papiro e, é óbvio, ninguém fará uma edição de Senhor dos Anéis escrita à mão e ilustrada com tinta de ouro como se fazia no passado, né?
Sempre digo que os livros de papel morreram para mim ainda na década de 80 pois eles passaram a ser feitos em grandes impressoras em papéis que até são mais nítidos, mas tem são meio químicos e não tem o cheiro e textura que eu amava.
Por conta disso é comum ver bibliófilos da minha idade apaixonados por sebo que é o único lugar onde ainda se encontram livros “de verdade”.
Mas há diversos tipos de pessoas. A maioria (e talvez o mais saudável) está ligada ao passado, mantém suas raízes e ligações com a infância. Eu sou diferente… Talvez por não ter passado por uma infância tão legal, talvez por ter mesmo uma natureza mais ligada no futuro.
Isso me lembra do vampiro Armand da obra da Ane Rice… Aquele que não consegue abraçar os tempos modernos e desaparece.
Como poucos de nós pretendem viver centenas de anos não há qq problema nisso, sempre haverá um sebo onde poderemos comprar um livro “de verdade”, né?
O importante é a gente saber exatamente pq preferimos o papel. Não é por poder sublinhar ou fazer anotações pq o espaço para isso é ilimitado no livro digital e limitadíssimo no de papel. Não é pq é mais confortável para os olhos pq o papel digital hoje é bem mais nítido do que o de celulose (além de podermos escolher a fonte e tamanho mais agradável para nós) e, claro, o livro digital abre um universo de possibilidades como poder levar os livros queridos sempre na mão, facilitar a localização daquele trecho (muito embora eu seja capaz de decorar em que altura e lado da página do livro de papel está cada trecho que eu gosto mais) além de não se deteriorar, não ser comido por cupins ou perdido depois que emprestamos (já perdi perto de mil livros dessas formas).
Nós gostamos do papel pq crescemos com com ele e nossas memórias e emoções são ativadas com eles! Continuo folheando livros nas livrarias encostando-os no ouvido e no nariz (ainda que o cheiro hoje em nada lembre os livros “de verdade”), continuo guardando versões de papel de Senhor dos Anéis, Fronteiras do Universo, Shakespeare, Fynn (Alô Sr. Deus, Aqui é Anna) e outros livros que marcaram minha vida (também vou tê-los digitais para poder mostrar sempre para os amigos, em qq lugar ou situação).
O fato é que, se gostamos não apenas do papel, mas também das palavras e histórias registradas nele, temos que amar o livro digital! Que nunca fica fora de catálogo, que não desaparece no fogo de Alexandria (nunca me recuperei da dor dessa perda), que pode ser multiplicado a custo quase zero, que em breve poderá ser levado onde os livros de papel jamais poderiam ir, que abre espaço para uma nova explosão de autores (afinal a produçào e distribuição de um livro de papel é cara levando as editoras e bloquear legiões de novos autores).
Em 30 anos o livro estará saltando para outra tecnologia e as crianças nascidas hoje reclamarão da perda do papel digital, da textura das suas telas, da luz suave que fazia as palavras flutuarem no espaço branco levando-as a outros universos enquanto a noite as cercava de escuridão…