O livro de papel estava na estante há muitos anos, pertencia na verdade a um amigo que o ganhou em um sorteio e eu… pedi emprestado porque ele não ia ler. Bem, talvez ele fosse ler antes dos 5 ou 6 anos que demorei para lhe devolver e ainda por cima dizendo que era presente da aniversário. A pandemia não é desculpa suficiente.

Quando o peguei comecei a ler e não me pegou. Achei que seria uma distopia claustrofóbica com um mistério que só é surpreendente porque tem dezenas, talvez centenas, de mistérios possíveis em torno de um Silo subterrâneo em que as pessoas vivendo nele não tem ideia de como seus antepassados foram parar ali.

Aí vieram os anos, virou uma série, decidi dar uma olhada no primeiro episódio e pensei… Olha! Não é que tem potencial para uns desenvolvimentos interessantes?

Peguei o livro e tentei ler correndo aproveitando que ia para a cidade do amigo comemorar o aniversário dele. Não deu tempo e acabei comprando o digital hehehehe.

Vê-se pela leitura mais ou menos rápida que ela flui bem, mas já já vou falar nisso.

Ah! Spoilers!

Não farei spoilers.

Mas não leia a contracapa do livro de papel pois tem um spoiler lá.

Impressões gerais

O começo lento me deu a impressão que logo o livro seguiria em um crescendo de ação, e foi isso que me desanimou anos atrás, mas esse é um livro que não se apoia na ação, o que pode desagradar quem prefere ritmos febris. A história nos conduz a alguns momentos de tensão e ansiedade bem construídos e vai nos revelando os mistérios em doses bem medidas que mantém a nossa expectativa, mas a intensidade está na construção e desenvolvimento das personagens e suas relações. Algo um pouco incomum em distopias, que costumam trazer personagens menos complexas e se apoiar mais na construção de mundo e na ação.

O estilo literário é bem interessante, mérito também da tradução de Edmundo Barreiros.

Como outras realidades distópicas em vários momentos vemos reflexões que se aplicam muito bem à nossa realidade atual, como em dado momento em que uma personagem passa a crer que o Silo não existe para servir as pessoas e sim que são as pessoas que servem ao Silo.

Quanto a diversidade o autor opta pela neutralidade e raramente deixa clara a etnia ou raça das personagens, se é que o faz em algum momento. Isso permite alguma identificação por quem lê e tem liberdade de imaginar as personagens de acordo com os próprios estereótipos e expectativas, no entanto considero uma saída “insentona” e que é necessário deixar clara a diversidade em vez de nos permitir povoar uma sociedade de 10 mil pessoas apenas com espelhos nossos e das nossas nemesis.

Ao menos em relação a igualdade de sexos o livro é satisfatório ao representar uma sociedade onde o machismo parece extinto. Acho que é uma opção válida muito embora muita gente possa preferir reproduzir também esse problema moderno para despertar reflexões e debates.

Apesar disso… Tem umas cenas de nudez femininas que achei bem desnecessárias. Assim como não se deu atenção a esse ou aquele personagem ser negro, amarelo, marrom ou branco achei até infantil a necessidade de dizer algo como “Ela atravessou nua o corredor escuro” quando não fará a menor diferença se ela estivesse nua ou com qualquer roupa.

A história tem falhas? Tem. Algumas dá para perceber nas primeiras páginas, mas achei irrelevantes porque não é um tratado histórico, científico ou mesmo antropológico. É uma ficção distópica.

Sinopse

Um silo subterrâneo com 10 mil habitantes que, por causa de uma revolução há 140 anos quando todos os dados foram destruídos, desconhecem quem fez o Silo, por que, quando e até mesmo quem foram seus antepassados que foram viver naquele ambiente restrito para nós que lemos, mas não para eles que vivem lá faz gerações sem ir ao mundo exterior porque, também por motivos desconhecidos, o mundo fora do Silo é mortal, mesmo usando roupas de proteção.

A história nos conduz pelos jogos de poder dentro do Silo, estrutura social e pela revelação de quase todos os mistérios chegando a uma conclusão satisfatória apesar de ser o primeiro de uma trilogia.

A série

A série inspirada, e não adaptada, ainda está em curso, mas já é possível dizer que optaram por surpreender também quem leu o livro fazendo mudanças substanciais que chegam a sugerir que alguns dos mistérios sobre o Silo serão diferentes dos do livro.

A lentidão de ação do livro, que lá é compensada pela tensão dos dilemas das personagens, acaba pesando mais na série, apesar da atuação das personagens principais, principalmente da atriz que faz Jules, a técnica mecânica, transmitirem bem a tensão interna e não verbalizada.

Como a opção foi criar uma história inspirada e não adaptada, não tenho como afirmar que a série será boa ou ruim. Temos que esperar o final.

Ficha:

Autoria:Hugh Howey
Edição original:2013
Tradução:Edmundo Barreiros
Gênero:Distopia
Estilo:Ficção
Editora:Intrínseca
Ano da edição2014
País:EUA
Páginas:511
Início da leitura:17/05/2023
Fim da leitura:24/05/2023