Imagem: Pintura rupestre por Patrick Gruban (Cc)

Eu estava zanzando pelas realidades online e offline (caminhava pela rua olhando o celular depois de correr) quando esbarrei numa coisa. Digo, uma coisa online, não esbarrei em outra pessoa andando não.

Era mais uma de dezenas de críticas que li sobre O Despertar da Força depois que escrevi as minhas (uma visão mais antropológica e outra mais pessoal).

Calma, pode continuar lendo, não terá spoiler, o assunto é a arte da crítica, tá certo?

Pois então, me parece que muita gente deu atenção aos detalhes periféricos do filme, coisas como o pano de fundo da trama, personagens coadjuvantes e até efeitos especiais (o que torna Star Wars especial nunca foi a ação ou os efeitos especiais. Em nenhum dos filmes).

A propósito… Raramente são os efeitos ou a ação que tornam um filme especial. Me lembro de uma fala do J.J Abrams (que dirigiu O Despertar da Força) ainda na época em que ele estava dirigindo Lost. Pera, vou achar…

The Mystery Box – J.J. Abrams

A fala toda é boa, mas o que me fez lembrar dela começa aos 10 minutos. Pode pular direto para lá.

Resumindo: A parte importante dos filmes são as jornadas pessoais que eles descrevem. Como no filme Tubarão que não é sobre um monstro que devora pessoas, é sobre um homem em dúvida sobre sua capacidade de cumprir seu papel no mundo.

A história toda do tubarão é periférica, percebe?

Assim como, no episódio IV, o importante não é descobrir quem é a mulher misteriosa no holograma, o Ben Kenobi que ela procura, saber como a Estrela da Morte será destruída ou mesmo o que aconteceu a Darth Vader para ele ficar daquele jeito.

A primeira trilogia de Star Wars é sobre como os jovens meninos despertam para a maturidade e responsabilidade em um tempo de famílias mal estruturadas. É uma pena que a jornada dele não seja tão ilustrativa para as jovens mulheres apesar da presença da Leia.

Enfim chegamos ao ponto da empatia necessária para criticar as coisas.

Se a gente não souber se colocar no lugar daquele jovem Luke, da Jessica Jones, da Katniss ou do Ben (líder dos outros em Lost) acabamos prestando atenção demais ao robô e outros detalhes que estão lá para que o personagem tenha chance de nos mostrar quem ele é conforme supera cada obstáculo ou reage a cada situação.

Críticas, no sentido de comentar apontando pontos fortes e fracos de uma obra, são necessárias, mas críticos, no sentido de quem só consegue falar de personagens com quem se identifica, são chatos, aliás são pior que isso, são inúteis pois falam para eles mesmos e não para os outros.

Só que vivemos na era da crítica (a boa crítica) e todos somos convidados tacitamente a opinar. Isso é parte da nossa interação social e, se falhamos em experimentar o mundo pelos olhos dos outros, nos mostramos socialmente inadequados.

Bem… Ser socialmente adequado não é uma boa razão para desenvolver empatia, não é mesmo? Já denota uma certa dificuldade, mas é um começo.

O ideal é que sejamos seguros o bastante da nossa própria natureza para conhecer e experimentar a dos outros simplesmente porque a vida é muito mais rica assim.

E, claro, para o crítico profissional é uma questão de habilitação para o ofício.