Pesados ônibus somam o silvo das suas portas ao barulhento movimento do centro da cidade, vozes que se confundem, apitos, motores acelerados, buzinas e o farfalhar pálido das asas dos pombos. Sons que se misturam ao caos visual das pessoas que passam apressadas, roupas coloridas e pernas que se confundem entre a floresta de outras pernas, roupas, quiosques de cachorro-quente e paredes de pedra e concreto.

Então do meio da cacofonia visual e auditiva se levanta uma melodia. Nas escadas do teatro municipal bailarinos imitam a multidão que até há pouco cruzava a praça entorpecida e, entre eles, uma bailarina destoa procurando despertá-los.

Assistindo a tudo isso uma plateia com cara de Brasil: do mendigo ao boy passando pelo admirador de arte. Todos hipnotizados, acompanhando pela praça as outras companhias de dança. E há quem diga que brasileiro não tem cultura! Só fez falta a presença das grandes emissoras de TV o que nos faz pensar… Afinal a quem será que realmente falta cultura?

Sinal

Os carros param e os pedestres ocupam a faixa branca, dançando, vagando entre os veículos e contando suas histórias de encontros e desencontros, ou, simplesmente, buscando naquelas massas metálicas um pouco das formas orgânicas e vivas que tanto fazem falta nos rostos que cruzam assustados as ruas das grandes cidades.

Sono

A multidão espera o próximo número, os bailarinos seguintes quando um homem e sua mochila passa a chamar a atenção, destacando-se sutilmente dos outros, encosta em um banco e dorme… Logo um segundo homem, encosta-se e dorme. Depois uma mulher, numa árvore: dorme…

Os pedestres, convertidos em platéia e figurantes, passa a seguir o trio sonolento pela praça, divertindo-se com o inusitado da situação: as pessoas que entram no meio da trama sem perceber, as que se veem subitamente envolvidas.

Mas quantas vezes vagamos sonolentos, até que ponto não estamos ali caricaturizados pelo hilário trio?