Duvido que algum deus real interfira em nossas vidas, desconfio que ao morrer nossa consciência se dissolve e deixamos de existir. Por isso me defino como ateu apesar dos protestos dos amigos mais íntimos que me lembram que acredito em formas de consciência superiores à nossa e que o Universo a desenvolve naturalmente assim como desenvolve matéria e vida.

Eles estão certos, mas em termos práticos prefiro me definir como ateu.

Então o que eu estava fazendo no meio de 50 mil pessoas que berravam EU TENHO Fé!!!! AXÉ!!!!!   ???

É muito simples! Tenho dois grupos de razões! As que me levaram lá e as que descobri depois de algum tempo lá.

Porque fui?

Como humanista eu defendo até as últimas forças o seu direito de pensar e sentir livremente, mesmo que eu não concorde com você! Esse movimento foi organizado por tradições culturais e religiosas que vem sendo perseguidas e demonizadas sistematicamente por alguns grupos que se dizem cristãos.

Esses mesmos grupos querem impor o ensino das suas crenças como se fossem ciência e proibir o ensino de ciência como se fosse crença e isso me atinge diretamente. Nada comparado com o que a Umbanda, o Candomblé, a Wicca e outras tradições sofrem, mas ainda assim é uma boa razão para me unir ao movimento.

Curiosidade. Eu também fui por curiosidade.

Porque fiquei?

Cheguei lá às 10h. Fiquei em pé andando lentamente ao lado deles por mais de 4h. Por que fiz isso?

Ao chegar lá percebi que havia motivos muito melhores para ter ido.

Tive vontade de me oferecer para subir no palanque deles e dizer por que havia pelo menos um ateu entre eles.

Era uma festa tão bonita que achei que não era o melhor momento para causar esse tipo de comoção e portanto mantive silêncio, mas  o discurso que imaginei explica por que acho que todos nós (religiosos ou ateus) deveríamos estar lá!

Sou ateu e aqui estou entre tantas pessoas de tantas crenças e tradições do espírito. Estou aqui em defesa do fim da intolerância. para manifestar meu apoio à causa de transformá-la em tolerância (que é intolerância educada), depois em respeito e, finalmente, em uma extasiante admiração da riqueza e diversidade da nossa espécie!

Sejamos ateus ou religiosos, todos nós buscamos o desenvolvimento da consciência e ao chegar aqui percebi que a consciência não pode ser plenamente explorada pela ciência. Precisamos aliar a ela a arte e a transcendência da arte e da ciência que nos aponta o futuro da nossa consciência, que nos fornece modelos utópicos a almejar.

O que chamo de modelo utópico pode ser apenas o resultado da miopia da minha visão quando olho para os seus Deuses!

E são Deuses no plural sim! Além de não podermos esquecer dos neo-pagãos que louvam ao menos dois Deuses (o Deus e a Deusa) cada um de vocês é o brilho e as cores de uma parte do grande e complexo mosaico que seria Deus.

Ver a diversidade de manifestações da consciência humana em sua jornada até a consciência suprema ou Deus é emocionante e já tive que segurar as lágrimas nos olhos uma dúzia de vezes hoje.

A diversidade das nossas manifestações científicas, filosóficas, artísticas e espirituais é a essência da busca por Deus e combater esta diversidade é mais do que combater a ciência, a filosofia ou uma religião: É combater Deus.