As ondas se dobram com estrondo antes de se esparramarem ao redor dos seus pés causando um arrepio que sobe pela nuca e faz com que ela morda os lábios, feche os olhos e se entregue à carícia do vento frio soprando seus cabelos para o lado.

Seus sapatos estão largados mais atrás e ela nem se importa com as barras molhadas da calça jeans de boca larga.

Já faz um tempo que ela está ali bebendo lentamente a água do coco enorme que segura com as duas mãos. Ela bebe e observa o céu nublado onde se encontra com o mar.

“Dia frio para o Beltane” ela pensa… A primavera está no meio, daqui para frente cada dia é mais um para chegar o verão, mas se o céu não está em chamas, dentro do peito dela o sol está a pino!

O céu ruge ao longe e começa a chover fino enfeitando seus cabelos e o braço arrepiado com delicadas contas de ínfimas gotas de chuva.

Seu corpo, no entanto, ainda sente a memória do calor da noite passada e antecipa o encontro logo mais à noite na floresta de sons, luzes, coisas ditas ao pé do ouvido para vencer a música alta e o roçar do rosto barbado em suas bochechas.

Ela fica ali… oscilando ao som da sua música íntima… no ritmo do sol que trilha o céu escondido pelas nuvens densas… A noite e o tempo congelam seduzidos e esperam que ela os deseje.