— Ehhh! Péra que vou no banheiro!

Aos vinte e bem poucos seus trejeitos e tom de voz são uma combinação curiosa da timidez adolescente e a segurança da maturidade. Quando sorri frequentemente as bochechas se ruborizam e os olhos espiam timidamente o chão do seu lado esquerdo.

Ela se levanta deixando-me imerso em pensamentos trazidos pela brisa que desce do Corcovado como um rio em busca do mar.

Ainda é cedo e a maioria das pessoas sentadas nos restaurantes ao redor parecem mais estar de passagem do que curtindo a tarde de quarta-feira. É gente que saiu do trabalho e vai para casa, mas lembrou que não tem comida na geladeira ou o que tem está lá esquecido faz tanto tempo que não dá para comer. Ou talvez apenas estejam dando uma parada no meio do dia para respirar a brisa tão diferente dos ares que ficam parados nos escritórios e nos apartamentos.

E lá vem ela novamente trazendo no rosto um sorriso de presente, tão leve, natural e sem intenção que deveria ser fotografado para ela mesma apreciar nos dias em que não dá para achar aquela alegria por mais que tentemos encontrá-la em nossas memórias.

Estamos entrando no outono, mas aquele sorriso é de primavera.