A terra faz uma fumaça rasteira quando as crianças passam correndo totalmente absortas na fantasia que faz da praça uma distante savana e dos velhos sentados nos bancos com seus jornais perigosos leões, rinocerontes ou tigres!
Os anciãos, que sessenta anos atrás corriam levantando a mesma fumacinha, retrucam entre pigarros e impropérios impacientes, mas lá vão elas dando voltas ao redor do perigoso Kala, o babuíno louco!
Sessenta anos e a mesma poeira faz a mesma fumacinha e os mesmos velhos e crianças se espalham pelo parque… Quem diria que, pouco antes aquelas mesmas crianças estavam reunidas em círculo ao redor dos seus skates conversando sobre a vida e seus olhinhos se cobriam com a mesma sombra que cobre os olhos adultos?
As vozes sussurradas e perplexas como apenas as crianças conseguem produzir falavam da violência dos pais, do medo das ruas, da loucura dos adultos. Os olhos arregalados de quem vê um cachorro grande, uma aranha na coberta ou a sombra de um alienígena na parede.
Pensando bem, as crianças que hoje pigarreiam nos bancos não eram tão diferentes sessenta anos atrás e também se reuniam em círculos secretos para falar dos terrores do mundo! Mas depois sempre vem um vento, uma bola que sai rolando lá do outro lado ou o amigo que chega correndo para contar outra novidade e lá se vão os índios e caçadores desbravar a África!