– Você não cansa de sonhar não, meu amor?

– Sabe que canso? Eu queria acordar sete horas, pegar o ônibus, trabalhar, chegar de volta lá pelas 19h, fazer um sexo, ver uma TV. Nas sextas tomar um choppinho com os amigos ou ir para a farra atrás de uma paquera e…

– Opa!!! Farra atrás do quê seu safado???

– … ser feliz assim! Hehehe!! Tô brincando Mary!

– Sei… Vou te marcar mais de perto, viu?

Ela sorri com um fiapo de ciúmes, mas transbordando um amor sem malícias embora certamente rico naquele desejo carnal que termina para muitos depois de uns anos, mas não para eles dois.

O Zé mantém seu olhar meio triste, meio embaçado, bem ligado ao brilho dos olhos dela e se pergunta se merece tanta confiança.

“Droga! Sou um babaca de não dar para essa mulher uma vida tranquila!”

A frase é um banner que gira em torno da testa do Zé. Tão grande que ele acha que todo mundo pode ver, talvez.

Nessas horas todos nós achamos que somos especialmente idiotas e que ninguém é como nós. O Zé também.

Alguém ai gostaria de ter uma vida menos ordinária? De ser famoso, de fazer coisas incríveis, viagens para lugares exóticos ou talvez trabalhar na exuberante indústria do cinema? O Zé pensa que é só ele.

E vive triste.

Quanto mais sonha, menos acredita que pode sonhar, quanto menos acredita mais sonhos constrói somente para desistir deles antes mesmo de tentar pois não acredita que pode ter sucesso com eles.

Pois é Zé…

O tempo todo ela ali, como uma bruma quente da primavera tropical, olhando para ele e sorrindo com amor. Um dia o Zé acorda do pesadelo e enxerga a moça diante dele!