Ao sair de casa sinto falta da cópia reserva da chave da porta. Procuro por toda parte e nada! Desisto e vou trabalhar um pouco apreensivo de ter deixado que ela caísse no corredor ou coisa assim.

Chegando em casa ouço uma música vindo pelo corredor e vejo uma luz pálida passando sob a porta do escritório. O monitor do computador está ligado! Entro assustado já com uma cadeira na mão para atacar o invasor.

O cômodo está na penumbra, no centro fica a mesa banhada pela luminosidade leitosa do monitor. O invasor está sentado de costas para mim e uma cauda balança distraidamente enquanto a pata peluda manipula o mouse. Posso imaginar um olhar guloso e desconfiado para o pequeno dispositivo.

– Gato? Quando penso que você sumiu de vez…

– Eu não tenho computador, e queria escutar as músicas da Maryfê, ora! – Ele responde sem se virar ou sequer se sobressaltar.

Como diabos o Gato de Botas, quer dizer, o Gato de Sapatos, veio a conhecer a música da Maryfê?

– Sei… Errr… Posso saber de onde você a conhece? Quer dizer, você não frequenta seus shows, né?

– Como não? Adoro techno, música eletrônica, sinthpop…

– Sint… o quê? Ah! Deixa para lá! Você é estranho!

– Eu? O tempo passa, as estações mudam, até os picos gelados descongelam enquanto você faz tudo sempre igual! E o estranho sou eu? Senta ai e escuta algo diferente para variar!