As portas do metrô se abrem na estação Cinelândia para nos dar acesso. Todos os bancos ocupados, algumas pessoas de pé sozinhas ou conversando moderadamente.
Sentada atrás do último banco a menina se entretém trocando o cadarço do tênis. As calças boca-de-sino, a blusa curta de malha vermelha (deixando a barriga exposta) sob o casaco jeans, cabelos castanhos claros, bem curtos e encaracolados presos por uma faixa vermelha.
Observando atentamente a cena um senhor contrasta seus quase setenta anos com os treze da menina que, a todo momento espreme uma bala do tubinho que leva na mão junto com o velho cadarço branco que acaba de trocar por novos pretos.
A menos de um metro do homem seu rosto expressivo parece ignorá-lo, seus olhos giram pelo vagão, o olhar se perde no chão, através dos vidros escuros, nos cantos do vagão: observam sem ver, como se apreciassem a paisagem enquanto os pensamentos vagueiam pelas vastas planícies da imaginação juvenil.
As portas se abrem e ela se vira com a nota de dez reais para o cinema na mão e segue seu caminho para o shopping deixando apenas a lembrança dos olhos pequenos e cheios de vida, dos dentes dentuços e as fantasias dos anciões.