A brisa já não carrega mais aquele humor gélido de inverno. É uma brisa fresca, até fria, mas é como se carregasse milhões de partículas mornas e macias como microscópicos pompons de algodão laranja. Assim são as brisas que anunciam a primavera!

Foi ontem que ela começou, mas já há alguns dias o vento que sobe pelas paredes do edifício tem este humor diferente que refresca, mas alegra. Junto com ele vem o aroma forte das flores das mangueiras abaixo. Um cheiro um tanto acre, de mato mesmo, destes que gruda no nariz e nos faz sentir dentro de um bosque caminhando casualmente pelos caminhos escuros e agradáveis enquanto as folhas sussuram segredos aos nossos ouvidos. Tão baixo que apenas eles — os ouvidos — escutam e nunca ficamos sabendo do que tramam as árvores e eles!

É! Primavera é tempo de segredos sussurrados ao ouvido distraído. Mesmo quando, lá de longe, vem o ronco de motores e, bem aqui do lado, o estalo metálico do elevador defeituoso do edifício vizinho corta a pureza da noite.